Saúde e Sociedade (Jun 2008)

Gênero, vulnerabilidade das mulheres ao HIV/Aids e ações de prevenção em bairro da periferia de Teresina, Piauí, Brasil Gender, women's vulnerability to HIV/Aids and preventive actions at a neighborhood on the periphery of Teresina, Piauí, Brazil

  • Maria da Consolação Pitanga de Sousa,
  • Antônio Carlos Gomes do Espírito Santo,
  • Sophia Karlla Almeida Motta

DOI
https://doi.org/10.1590/S0104-12902008000200007
Journal volume & issue
Vol. 17, no. 2
pp. 58 – 68

Abstract

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Com a mudança ocorrida no curso da epidemia de Aids a partir dos anos 1990, marcada pelo aumento da incidência entre segmentos fora dos "grupos de risco", entre eles as mulheres, o conceito de risco individual foi substituído pela noção de vulnerabilidade social, abrangendo questões relacionadas ao comportamento coletivo, como as relações de gênero, além das ações do Estado voltadas para essas questões. Este artigo relata os achados de uma pesquisa de corte qualitativo realizada com mulheres adultas, vivendo relações conjugais estáveis, moradoras de bairro considerado de baixa renda, na periferia de Teresina. Para isso, buscou-se identificar a vulnerabilidade desse grupo à infecção pelo HIV, em função da utilização ou não de preservativo, bem como a relação desse aspecto com as relações de gênero vivenciadas pelos parceiros e o papel do Programa Saúde da Família nesse contexto. Verificou-se que a maioria das mulheres não faz uso contínuo do preservativo, por estar vivendo relação estável com parceiro fixo; entretanto, considera-se vulnerável, pois não tem absoluta confiança no comportamento sexual do parceiro. A negociação com o parceiro sobre o uso do preservativo é quase sempre difícil, e, por vezes, requer a alegação de que representa segurança para se evitar uma gravidez indesejada. Rassalta-se que o Programa Saúde da Família não incorpora a discussão sobre sexualidade e relações de gênero ao trabalho de educação em saúde da mulher por estar centrado no acompanhamento pré-natal e na redução do câncer ginecológico.With the change that started to occur in the course of the Aids epidemic from the 90s onwards, marked by an increasing incidence among segments outside the "risk group", including the women, the concept of individual risk was replaced by the notion of social vulnerability, encompassing questions related to collective behavior, such as gender relations, and also the actions taken by the government concerning these matters. This article reports the findings of a qualitative research conducted with adult women who had stable marital relationships and lived on the poor periphery of the city of Teresina, state of Piauí. This paper identified the group's vulnerability to HIV based on the use of condoms, as well as the relations of this aspect to the gender relations experienced by the partners and the role of the Family Health Program in this context. It was verified that most of the women do not continuously use condoms because they are living a stable relationship with a single partner; nevertheless, they consider themselves vulnerable since they do not trust their partners' sexual behavior. The negotiation with the partner about the use of condoms is nearly always difficult, and at times, it is necessary to mention the need to avoid unwanted pregnancy. It is important to highlight that the Family Health Program does not approach the discussion about sexuality and gender relations in the health education of the woman, for it focuses on prenatal care and on the reduction of gynecologic cancer.

Keywords