Convergência Lusíada (Apr 2024)

Do conto como cânone da poesia: Eça, Machado e as aporias da modernidade

  • Isabel Cristina Rodrigues

DOI
https://doi.org/10.37508/rcl.2024.nEsp.a1214
Journal volume & issue
Vol. 35, no. Esp.

Abstract

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Se nos propusermos ler os contos «Missa do Galo», de Machado de Assis (1893), e «Civilização» (1892), de Eça de Queirós, à luz da pauta catego­rial do conto, verificamos que a inquestionável modernidade da narrativa breve de Machado não se mostra propriamente reconhecível no conto queirosiano. Na esteira já antiga (mas inquestionavelmente moderna) de Poe, o conto de Machado procura mostrar por que razão o exercício narra­tivo é, neste género literário, tão necessário como malquisto – porque há sempre nele uma história para contar, mas dela conta-se apenas o seu ros­to mais visível, cujo perfil secreto parece preferir recolher-se à virtualida­de significativa de um instante que abre depois para o que o transcende em possibilidade de significação. Por seu lado, o conto de Eça, publicado pela primeira vez em 1892 na portuguesa Gazeta de Notícias (e que viria posteriormente a figurar como matriz do romance A cidade e as serras, publicado em 1901), não acolhe a discursividade de fotograma que enfor­ma o conto de Machado de Assis, ainda hoje profundamente moderno na defesa compositiva de uma brevidade que não pode medir-se em função do fio de lógica ditado pelo número.

Keywords