Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)

“DOUTOR, ELA É CRUEL”: A DOR DE UM PACIENTE COM PNEUMONIA BACTERIANA EM FASE FINAL DE VIDA

  • Gustavo Alves Pereira de Assis,
  • Deise Jaime Cristina Pereira dos Santos

Journal volume & issue
Vol. 26
p. 102165

Abstract

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Introdução/Objetivo: A pneumonia bacteriana é uma doença infecciosa que afeta os alvéolos pulmonares, ocasionada por bactérias como Klebsiella pneumoniae, Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, entre outras. Dentre os sintomas, encontra-se a dor. A vivência de dor é freqüentemente experienciada em pacientes na fase final de vida, porém, no campo dos cuidados paliativos em infectologia, mais especificadamente nos quadros de pneumonia, trata-se de tema pouco investigado. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa é compreender a vivência de dor de paciente com pneumonia bacteriana em fase final de vida. Método: Esta pesquisa configura-se como qualitativa e de método fenomenológico. A amostra foi única, sendo indivíduo do gênero masculino, 38 anos, diagnosticado com pneumonia bacteriana, hospitalizado em uma unidade de infectologia no Estado de Goiás, sob cuidado paliativo exclusivo. Realizou-se uma entrevista fenomenológica, com duração média de 30 minutos, via gravador sonoro portátil. Os dados foram transcritos integralmente para análise segundo o método empírico-fenomenológico de Amedeo Giorgi, seguindo os quatro passos: estabelecimento do sentido geral, delimitação dos elementos significativos da experiência, transformações das unidades de significado em expressões de caráter psicológico e determinação da estrutura geral dos significados. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa, sob o protocolo CAAE 38003420.4.0000.0034. Resultados: A análise evidenciou cinco unidades de sentido na experiência de dor, a saber: dor insuportável, dor falsa, dor cruel, medicação percebida como insuficiente para o controle da dor e oscilações nas vivências dolorosas. Os dados apontam a descrição de dor física como insuportável e cruel, o que denota uma implicação psicológica importante. O participante percebe sua vivência dolorosa como falsa para elucidar que a farmacoterapia não tem sido suficiente para o controle do quadro álgico, o que leva-nos a constatar outras dimensões da dor para além da dimensão física. O sintoma de dor ocorre episodicamente, sendo classificado como intermitente, revelando vivência álgica oscilante. Conclusão: Conclui-se que a dor no quadro de pneumonia bacteriana experienciada pelo participante na fase final de sua vida é vivenciada como intermitente, intensa, desconfortável e com pouca resolutividade na administração de farmacoterapia, demonstrando altos índices de sofrimento físico e psicológico.