Tempo e Argumento (Apr 2022)
Cinema latino-americano, festivais europeus e redes de solidariedade
Abstract
Este artigo tem como objetivo analisar o papel que os festivais de cinema europeus tiveram na articulação de uma rede de solidariedade às vítimas da ditadura chilena nos primeiros anos após o golpe de Estado de 1973. Por meio de uma perspectiva transnacional e em diálogo com os festival studies, o texto se dedica à complexidade dos vínculos entre o cinema político da América Latina e os encontros cinematográficos ocorridos na Europa desde a década anterior, com foco no chamado “longo” 1968, época marcada pela renovação estética, discursiva e institucional que modificou a natureza dos festivais europeus. Dessa forma, a presença de filmes, agentes do meio cinematográfico, figuras públicas de outra natureza, críticos, público, declarações de protesto, cobertura da imprensa, entre outros aspectos que compõem um festival são analisados como parte de um fenômeno mais amplo de aproximação entre América Latina e Europa em torno da noção de solidariedade e engajamento nas pautas “terceiro-mundistas”. O artigo analisa a presença da causa chilena em três festivais específicos, tomados como estudos de caso: a Mostra Internacional do Novo Cinema de Pesaro, o Festival de Cannes e o Festival Internacional de Documentário de Leipzig. Esses encontros apresentam distintos graus de centralidade no circuito dos festivais e se localizam em países/blocos de zonas de influência diferentes, o que permite entender os complexos fluxos que se estabeleceram nas redes solidárias. Palavras-chave: festival; Chile; ditadura; solidariedade.