Brazilian Journal of Infectious Diseases (Sep 2022)

EMERGÊNCIA DA MUCORMICOSE NO SUDESTE DO BRASIL NA PANDEMIA DE COVID-19: SERIE TEMPORAL DE HOSPITALIZAÇÕES 2010-2021

  • Ivan Lira dos Santos,
  • Carolina Specian Sartori,
  • André Giglio Bueno,
  • Elisa Teixeira Mendes

Journal volume & issue
Vol. 26
p. 102533

Abstract

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Introdução: Mucormicose é uma infecção fúngica angioinvasiva com elevada morbi-mortalidade. Na pandemia de Covid-19 foi relatado um aumento na incidência principalmente na Índia e em menor volume nos EUA, Paquistão, França México e Irã. No Brasil temos relatos de casos, sem avaliação epidemiológica temporal. Objetivo: Avaliar a série temporal de casos de Mucormicose no Sudeste do Brasil de 2010-2021 e observar incidência da infecção após o início da pandemia de Covid-19. Método: A partir da base de dados Sistema de Informação Hospitalar (SIH-DATASUS), realizou-se busca em todos os campos diagnóstico de Mucormicose (pelo CID-10 B46.0 a B46.9), de2010 a 2021, no sudeste do Brasil. É um estudo de séries temporais que avaliou coortes hospitalizadas em 2010-2019 e 2020-2021. Lançou-se mão do teste de qui-quadrado para variáveis categóricas e kruskal-wallys para contínuas. Resultados: Ocorreram 320 internações por Mucormicose no período de 2010 a 2021, com 94 casos somente em 2020-2021 com média de 47 casos por ano, enquanto 2010-2019 apresentou média de 23 casos por ano. A maioria de homens (63%), mediana de idade de 54 anos com intervalo interquartil (IQR:40-67) e brancos (60%). Observamos uma alta frequência de casos no Estado de São Paulo (213) e especificamente na cidade de São Paulo (46). A maioria (68%) foi diagnosticada com Mucormicose no momento da admissão, 13% das internações necessitaram de UTI, a média de permanência hospitalar foi de 9 dias (IQR:4-20), 9,1% dos pacientes apresentavam doenças onco/hematológicas. O aumento da incidência (n = 94) foi estatisticamente significativo no período pandêmico (2020-2021), com ocorrência de aumento na idade 40+ (20%), cor branca (44%), apresentações rinocerebral (36%), não especificada (43%) e residentes do Estado de São Paulo (20%). Conclusão: O período da pandemia de Covid-19 apresentou uma elevação significativa na incidência de Mucormicose no Sudeste do Brasil em relação à última década. O aumento importante de pacientes críticos, principalmente em maiores de 40 anos, submetidos à procedimentos invasivos, corticoterapia, uso indiscriminado de antibióticos e antifúngicos de amplo-espectro deve ter tido influência nesse aumento. Contudo, estudos que avaliem individualmente esses pacientes com diagnóstico de mucormicose são necessários para verificar a sua relação com o diagnóstico de Covid-19.