REVES - Revista Relações Sociais (Feb 2019)
GOVERNAMENTALIDADE ALGORÍTMICA E SUBJETIVAÇÃO: SOBRE OS RISCOS DA CONSTRUÇÃO DE SUBJETIVIDADES EM UM MUNDO DIGITAL
Abstract
No presente texto busco analisar como o conceito de governamentalidade desenvolvido por Michel Foucault foi reapropriado em um novo e perspicaz modo de governo analisado pela filósofa Antoinette Rouvroy. Partindo das análises de Foucault Rouvroy busca comprovar que atualmente está em processo a instalação de um tipo completamente novo de governamentalidade que age através da otimização algorítmica dos comportamentos, das relações sociais e da própria vida dos indivíduos. O processo de “digitalização do mundo” fornece o fundamento desta “governamentalidade algorítmica” visto que os inúmeros vestígios numéricos (os dados) de nossos comportamentos, que proliferam na internet, formam um conjunto de informações tidas como mais refinadas, objetivas e que falam da realidade como ela é. Por sua objetividade a “governamentalidade algorítmica” opera através de três momentos que permitem seu funcionamento e a desviam de toda interpretação dos fenômenos, de representação do mundo e de construção de subjetividade: a dataveillance, a datamining e o profiling. Entre os “benefícios” pretendidos com a “governamentalidade algorítmica” estão a eliminação, graças aos cálculos algoritmos, de todo risco, de toda imprevisibilidade e de todo perigo. Isso aumenta a capacidade de predição dos comportamentos futuros dos indivíduos levando, no campo da segurança pública, à diminuição da ocorrência de crimes e ao amplo controle de condutas desviantes. Contrariando esta perspectiva Rouvroy ressalta que um governo alicerçado em dados digitais pode levar à constituição de uma sociedade sem vida, à eliminação de qualquer representação do mundo e, no limite, à extinção dos sujeitos e das subjetividades.
Keywords