Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

QUANTIFICAÇÃO DE HEMOGLOBINAS POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA PERFORMANCE DE PACIENTES COM DOENÇA FALCIFORME EM PROGRAMA DE ACESSO EXPANDIDO DO VOXELOTOR NO HEMORIO

  • RA Louback,
  • ION Cabral,
  • PG Moura

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S32 – S33

Abstract

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Objetivos: O Voxelotor é um medicamento novo desenvolvido para o tratamento da Doença Falciforme (DF). Ele se liga à hemoglobina (Hb) e aumenta sua afinidade pelo oxigênio, prevenindo sua polimerização e falcização das hemácias. No entanto, essa interação interfere na quantificação das frações de Hb por Cromatografia Líquida de Alta Performance por Troca Iônica (HPLC) pois altera o perfil do gráfico e prejudica o cálculo. Nesse contexto, o objetivo é descrever esses achados em pacientes com DF em uso de Voxelotor no HEMORIO e a abordagem utilizada para lidar com tal interferência. Material e métodos: Foi realizado estudo observacional a partir de gráficos de HPLC de 3 pacientes participantes do Programa de Acesso Expandido do Voxelotor no HEMORIO, com diagnóstico de DF (homozigose de HbS) em uso de Hidroxiureia. Foi utilizado o equipamento de HPLC VARIANT II (Bio-Rad) com o kit β-Talassemia Short Program e as porcentagens adotadas referem-se aos valores fornecidos pelo software. Após o resultado inicial, as amostras foram divididas em duas alíquotas: uma submetida à incubação em banho-maria a 39 ºC e a outra, reservada na geladeira como controle. Após 24 horas, foram testadas no HPLC e os gráficos, analisados. Como comparação, amostras de 3 pacientes com DF sem o uso de Voxelotor foram submetidas às mesmas condições. Resultados: Nas amostras dos pacientes em uso do Voxelotor foi identificada a ocorrência de picos sobrepostos (split) nas regiões da HbD e HbS, cuja soma dos respectivos valores resulta em 71.3, 68.9 e 64.7%, considerando ambos os picos como HbS. Após a incubação a 39 ºC por 24 horas, os gráficos passaram a apresentar pico único em HbS com valores de 78.6, 77.4 e 75.5%, respectivamente. Ainda, todas as amostras continham altas frações de HbF, de 14.9, 20.8 e 25.3% que caíram para 12.6, 15 e 20.2%. Quanto aos pacientes que não usam Voxelotor, observou-se pico único em HbS de 65.6, 69.5 e 71.9% que se repetiu após incubação (66, 69 e 71.4%, respectivamente). Da mesma forma, a HbF não apresentou alteração, indo de 10.4, 23.9 e 25% para 10.2, 23.5 e 24,5%. Discussão: A observação do split nas amostras de pacientes em uso do Voxelotor analisados nesse equipamento de HPLC vai ao encontro da literatura, que descreve que o complexo Voxelotor-HbS é detectado na região HbD. Esse perfil impede que o software calcule corretamente as frações de Hb, já que o resultado é em porcentagem do total. Curiosamente, após a incubação, o gráfico volta a apresentar o perfil característico de DF, com um pico único na região da HbS com valor mais alto do que a soma do split, possivelmente mais próximo do real. Ainda, a fração HbF também foi afetada apresentando queda considerável. A observação de que o gráfico e as frações de Hb permaneceram inalterados nos pacientes que não usavam o Voxelotor indica que as condições de incubação não afetam a amostra, sugerindo que a temperatura influencia apenas na interação do Voxelotor com a Hb. Conclusão: O Voxelotor interfere no gráfico de HPLC, mas o processo de aquecer a amostra parece ser capaz de desfazer o complexo formado com a Hb, resultando em um gráfico adequado para o cálculo das frações de Hb nesse equipamento. Destaca-se, porém, que os resultados são preliminares e um estudo mais aprofundado encontra-se em andamento.