Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
ANEMIA HEMOLÍTICA POR DEFICIÊNCIA DE FOSFATO ISOMERASE: UM RELATO DE CASO
Abstract
Objetivo: Relatar caso de paciente em seguimento ambulatorial em investigação de anemia hemolítica desde a infância, com diagnóstico de deficiência de glicose fosfato isomerase. Material e métodos: As informações contidas neste relato de caso foram obtidas por meio de revisão de prontuário do paciente e revisão de literatura. Resultados: Paciente sexo masculino, 48 anos, com início de seguimento com hematologia do HCFMRP-USP em 2007, para investigação de anemia hemolítica desde a infância. Em primeira consulta, exames laboratoriais demonstravam anemia discreta (Hb 10,5), com exames para avaliação de hemólise positivos, sem padrão autoimune (coombs direto negativo). Além de provas de hemólise positivas, paciente apresentava esplenomegalia discreta (confirmada em exame ultrassonográfico de abdome). Iniciada investigação para anemias hemolíticas hereditárias e adquiridas, sendo realizada eletroforese de hemoglobinas, teste para deficiência de G6PD, curva de fragilidade osmótica e pesquisa de clone HPN, com resultados negativos. Paciente manteve acompanhamento ambulatorial ao longo dos anos, com persistência de anemia leve com positividade para provas de hemólise, sem necessidade de suporte transfusional. Em 2024, realizado teste genético para painel de anemias hereditárias, com achado de homozigose no gene GPI (glucose-6-phosphate isomerase), denotando anemia hemolítica não-esferocítica por deficiência de glicose fosfato isomerase. Discussão: A glicose-fosfato isomerase (GPI) é uma enzima sintetizada em diversas células do corpo; e nos eritrócitos, catalisa a conversão de glucose-6-fosfato em frutose-6-fosfato na via glicolítica. A deficiência desta enzima resulta em comprometimento na produção de adenosina trifosfato (ATP), prejudicando a homeostase das hemácias, implicando em sua destruição precoce. A deficiência de GPI é causada por mutações em homozigose ou heterozigose composta no gene GPI (localizado no cromossomo 19), e possui padrão de herança autossômico recessivo. A principal expressão clínica dessa doença são graus variados de hemólise, com períodos de exacerbação após episódios infecciosos ou crise aplástica. Hiperbilirrubinemia (à custa de bilirrubina indireta) também caracteriza o perfil hemolítico da doença, causando icterícia e predisposição à formação de cálculos biliares. Em alguns casos, também foi observado comprometimento neuromuscular, com hipotonia, ataxia e deficiência intelectual. O diagnóstico é estabelecido pela pesquisa de atividade da enzima GPI nos glóbulos vermelhos, através de ensaios enzimáticos ou testes genéticos. O manejo terapêutico é heterogêneo, e depende das manifestações clínicas e grau de hemólise apresentado pelo paciente, podendo ser realizadas transfusões de hemácias e esplenectomia. Conclusão: O relato de caso demonstra uma doença cujo diagnóstico é raro e complexo através do sistema de saúde brasileiro, entretanto, ressalta a importância do reconhecimento de diagnósticos diferenciais para anemias hemolíticas hereditárias tanto para o seu tratamento de suporte adequado, quanto para o aconselhamento dos pacientes.