Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
MANIFESTAÇÕES DA DOENÇA DO ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO AGUDA EM CAVIDADE ORAL: RELATO DE CASO CLÍNICO
Abstract
Introdução: A Doença do enxerto contra hospedeiro (DECH) é a maior causa de morbidade e mortalidade tardia no cenário pós transplante de células tronco hematopoiéticas alogênico (alo-TCTH), ocorrendo em 30% a 70% dos pacientes. As manifestações clínicas da DECH podem ser na forma crônica (DECHc), aguda (DECHa) ou síndrome de sobreposição. A DECHa acomete principalmente pele, fígado e trato gastrointestinal, enquanto a DECHc pode acometer um ou vários órgãos concomitantemente. A cavidade oral é majoritariamente acometida por DECHc, enquanto a manifestação da DECHa em cavidade oral é pouco descrita e não utilizada para graduação da doença. Muitas vezes o diagnóstico de DECHa em boca é confundido com mucosite oral, ou infecção. Objetivo: Descrever um caso de DECHa em cavidade oral em paciente pediátrico pós alo- TCTH. Caso clínico: Paciente de 13 anos, sexo masculino, doença de base anemia falciforme, realizou transplante aparentado HLA idêntico. Teve como doadora a mãe e fonte de células, medula óssea. Realizou condicionamento com fludarabina e bussulfano. Em D+31 pós transplante alogênico de células hematopoiéticas (alo-TCH) apresentou lesões ulcerativas em lábios superior e inferior, dorso de língua, região de palato duro e mucosa jugal bilateral com sintomatologia importante e comprometimento da alimentação. Paciente foi submetido a biópsia incisional das lesões orais e coleta de PCRs virais para herpes vírus, CMV e EBV. Concomitantemente ao aparecimento das lesões orais, a equipe médica identificou ao exame físico micropápulas esparsas com hiperemia palmar bilateral, pápulas plantares bilateralmente e pápulas dispersas em região dorsal, não pruriginosas. A equipe médica realizou prescrição de prednisona 40 mg via oral, assim como biópsia das lesões de pele e coleta de PCR virais para excluir possível infecção viral, já que a manifestação das lesões em boca e membros, clinicamente favorecia quadro de síndrome mão-pé-boca. Foram coletados PCRs de sangue para herpes vírus, EBV, CMV, poliomavírus e enterovírus. Todos os exames para screening infecciosso foram negativos. O exame anatomopatológico da biópsia da boca apontou epitélio escamoso hiperplásico, com espongiose acentuada e difusa com focos de exocitose de linfócitos, área de ulceração epitelial com fundo fibrino-leucocitário, não foram observados inclusões virais na amostra e os achados favoreciam doença do enxerto contra hospedeiro. Já os achados anatomopatológicos da biópsia de pele apontaram pele com focos de dano vacuolar basal associada à dermatite crônica predominantemente superficial, favorecendo o diagnóstico de doença do enxerto contra hospedeiro aguda. Após a introdução de prednisona, o paciente teve melhora importante de sintomatologia, assim como regressão das lesões orais e das lesões em pele. Conclusão: Lesões por DECHa devem ser inseridas entre as hipóteses diagnosticas de lesões orais precoces em pacientes submetidos ao alo-TCH, em especial quando da presença de lesões suspeitas em outros órgãos.