Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
RELATO DE TRANSPLANTE AUTÓLOGO PARA LINFOMA DE CÉLULAS DO MANTO EM PACIENTE OBESO MÓRBIDO COM MÚLTIPLAS COMORBIDADES
Abstract
Introdução: O tratamento do Linfoma de Células do Manto é desafiador. No cenário do SUS, traz um desafio maior devido às limitações das opções terapêuticas, nesse contexto o transplante autólogo se torna imprescindível. Objetivos: Relatar a experiência do transplante autólogo no paciente com obesidade mórbida e com múltiplas comorbidades. Materiais e métodos: Revisão de prontuário sem identificação da paciente. Relato de caso: Paciente sexo masculino, 52 anos, casado, natural e procedente de Curitiba-PR. Em setembro de 2023 evoluiu com linfonodomegalia em região cervical, associado a febre e sudorese noturna . Negava perda ponderal. Realizou biópsia de linfonodo supraclavicular direito que confirmou diagnóstico de Linfoma de Células do Manto com MIPI score de alto risco. Os antecedentes patológicos do paciente incluíam Flutter atrial, síndrome metabólica (HAS, DM2, Hipertrigliceridemia) e obesidade mórbida (IMC > 40). Devido às múltiplas comorbidades foi proposto um tratamento quimioterápico menos intensivo, o R-CHOP. Após seis ciclos do R-CHOP, foi feito reestadiamento com PET-CT em maio de 2024, que mostrava resposta completa, Deauville 2. Diante desse cenário de resposta completa, foi encaminhado para o serviço de Transplante de Medula óssea, com objetivo de consolidar o tratamento com transplante autólogo, seguido de manutenção com rituximabe. Nesse contexto, foi optado por um condicionamento alternativo ao BuCyE, sendo escolhido o BuFlu (Bussufalno 9,6 mg/kg e Fludarabina 150 mg/m2). As doses de quimioterapia foram corrigidas para o peso ideal ajustado do paciente. Durante internamento paciente apresentou pouca toxicidade, mucosite grau II sem impacto na alimentação e não apresentou neutropenia febril no internamento. Apresentou pega neutrofílica e plaquetária no D+13 com boa evolução no seguimento. Discussão: A escolha do condicionamento é um dos pilares para o transplante. A individualização do mesmo deve levar em consideração o diagnóstico hematológico, o status da doença, status performance de cada paciente, além das comorbidades pregressas. Na atualidade, a obesidade vem comprometendo uma parcela significativa da população. Junto a isso, inúmeros estudos vêm demonstrando piores desfechos do tratamento de doenças oncológicas na população obesa. O impacto negativo da obesidade sobre o desfecho do transplante de medula óssea, sobretudo no transplante alogênico, é frequentemente descrito na literatura. Além do mais, a compreensão do impacto sobre a farmacocinética dos quimioterápicos ainda é muito limitada, especialmente nas doses empregadas nos condicionamentos. Acredita-se que a depuração dos fármacos nesta população é mais lenta, desse modo, algumas recomendações existem, mas não são unânimes na literatura para algumas drogas. Para o bussulfano, por exemplo, a correção para o peso ideal ajustado é indicada, bem como a monitorização dos níveis séricos da droga. Já para a fludarabina, as recomendações na literatura são conflitantes, alguns autores recomendam o uso da dose pelo peso real do paciente, enquanto outros recomendam a correção para o peso ideal. Diante disso, o objetivo deste relato é trazer à luz a discussão e desafio de adaptar o regime de condicionamento para população com obesidade mórbida especialmente diante da falta de solidez em alguns dados na literatura e reforçar a necessidade de mais estudos que norteiem as condutas do manejo da população obesa no TMO.