Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICO-EVOLUTIVOS DE UMA COORTE DE PACIENTES INTERNADOS COM COVID-19 NO HC-UNICAMP. OCORRÊNCIA DE EVENTOS ADVERSOS E FATORES RELACIONADOS AO PROGNÓSTICO
Abstract
Introdução: As IH e outros eventos adversos hospitalares podem aumentar o risco de evolução para óbito em pacientes com COVID-19. Os objetivos do estudo são avaliar os aspectos epidemiológicos e clínico-evolutivos dos pacientes internados com COVID-19 no HC-Unicamp; avaliar a ocorrência de eventos adversos e o impacto destes fatores na evolução dos casos. Métodos: Estudo de coorte que incluiu os pacientes notificados pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica do HC da Unicamp. Resultados: Foram incluídos 346 pacientes com diagnóstico de SRAG. A idade média foi 58,7 (DP 14,8) anos, sendo 57,2% (198) homens. Destes, 41,6% (144) foram internados em UTI. A maioria apresentava doenças de base (90,7%). O início dos sintomas até a internação foi de 8,3 (DP 4,2) dias. As principais alterações laboratoriais foram: linfopenia em 52,3% (181), Dímero D, PCR e fibrinogênio elevados em 79,8% (276), 92,8% (321) e 72,2% (250), respectivamente, além de elevação da ureia em 57,5% (199) e hiperglicemia em 87,3% (302) casos. A TC de tórax mostrou alterações típicas em 72,8% (110) casos. Antimicrobianos foram usados em 98,5% (341) casos e 89,9% (311) pacientes apresentaram algum evento adverso durante a internação, sendo os principais: hematológicos em 86,7% (300) pacientes e metabólicos em 53,8% (186) pacientes. Foi observado insuficiência renal não dialítica em 20,5% (71) casos. IH foi diagnosticada em 111 pacientes (32%), sendo PAV em 60,3%), ICS em 43,2% e ITU em 34 (30,6%) pacientes. Foram isoladas 188 culturas positivas, sendo as bactérias gram negativas as mais frequentes como Pseudomonas aeruginosa (14,9%) e Burkholderia cepacia (11,2%). Oitenta e um (23,4%) pacientes evoluíram para óbito. Comparando os pacientes que evoluíram para óbito com aqueles que sobreviveram observamos diferença estatisticamente significante na ocorrência de ICS (9,4% e 28,4%; p < 0,0001), PAV (12,1% e 48,1%; p < 0,0001) e ITU (6% e 24,7%; p < 0,0001). Conclusão: Pacientes COVID-19 são na maioria homens idosos com comorbidades, que internaram na segunda semana de doença, sendo que 41,6% em UTI. Uma porcentagem expressiva dos pacientes apresentou eventos adversos, particularmente distúrbios hematológicos, insuficiência renal e IH contribuindo para pior prognóstico. O uso de antimicrobianos (98,5%) foi além do esperado pela frequência de infecções documentadas, pelas dificuldades de se diferenciar as alterações decorrentes do dano viral e a ocorrência de infecção bacteriana.