Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

ANÁLISE DE CARACTERÍSTICAS QUANTITATIVAS E MORFOLÓGICAS DE NEUTRÓFILOS EM PACIENTES COM DENGUE

  • LJ Bertollo,
  • AC Cerri,
  • RD Jacoboski,
  • APG Lopes,
  • CD Schastai,
  • LM Dionisio

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S127 – S128

Abstract

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Objetivos: A dengue constitui um grande problema de saúde pública, cujos mecanismos fisiopatológicos, embora não completamente elucidados, resultam provavelmente de interações complexas entre fatores relacionados ao vírus e ao hospedeiro. O hemograma é um exame amplamente usado no acompanhamento de pacientes com dengue. Neste contexto, alterações morfológicas de linfócitos têm sido bastante exploradas. Embora os neutrófilos sejam os leucócitos mais abundantes na circulação, e se saiba que estes são ativados na dengue, o seu papel na defesa contra a infecção pelo vírus da dengue (DENV) não está totalmente compreendido. Assim, é preciso elucidar de que forma a ativação dos neutrófilos na defesa contra o DENV é refletida no hemograma. O presente estudo tem por objetivo avaliar alterações quantitativas e morfológicas dos neutrófilos em hemogramas de pacientes com dengue. Material e métodos: Foram incluídos pacientes adultos de ambos os sexos, com diagnóstico de dengue, atendidos no Hospital Universitário da UEPG entre abril e maio/2024. Foi realizada consulta a prontuários eletrônicos, avaliados os resultados de hemogramas, e as lâminas revisadas. A análise estatística foi realizada com auxílio do programa Jamovi 2.2.5. Resultados: 32 pacientes foram incluídos, sendo 62,5% mulheres e 37,5% homens. A mediana de idade foi de 37,7 anos. 46,9% apresentaram leucopenia e 6,3% leucocitose. A neutropenia estava presente em 56,3% dos casos. As alterações qualitativas foram: 43,8% de pacientes com neutrófilos hipossegmentados (anomalia de pseudo Pelger-Hüet (PPHA)), correspondendo entre 2 e 44,5% dos neutrófilos; Vacuolizações citoplasmáticas em 15,6% dos casos. A proporção de pacientes com neutrófilos hipossegmentados foi maior (p = 0,014) naqueles com neutropenia, se comparado aos que não possuíam tal condição (71,4% vs. 28,6%). Não houve diferença significativa na proporção de indivíduos com neutrófilos hipossegmentados entre os pacientes com e sem neutropenia. A vacuolização citoplasmática ocorreu apenas em indivíduos com leucopenia e neutropenia. Discussão: Neutrófilos hiposegmentados, ou PPHA é uma forma adquirida de displasia de neutrófilos, caracterizada por núcleos bilobulados, ou unilobulados, que ocorre em neoplasias hematológicas, como a síndrome mielodisplásica e durante o uso de medicamentos como os imunossupressores. Ainda, esta já foi descrita na infecção pelo HIV, na tuberculose, na COVID-19, entre outras. Entretanto, a presença de neutrófilos hiposegmentados na dengue foi reportada em apenas um estudo, em 36,7% dos casos avaliados. No presente estudo, mais de 70% dos pacientes com neutropenia apresentaram tal característica. Embora os mecanismos que levam à formação de neutrófilos hiposegmentados não sejam totalmente esclarecidos, a presença destas células na dengue, associada à neutropenia, fornece evidências que sugerem o envolvimento dos neutrófilos nos mecanismos de defesa contra o DENV. Além disso, a presença de vacuolizações citoplasmáticas, pode indicar a atuação dos neutrófilos para a eliminação de complexos imunes DENV-IgG, uma vez que tais células apresentam diversas classes de receptores FcγR. Conclusão: No presente estudo, grande parte dos pacientes com dengue apresentou algum grau de alteração morfológica de neutrófilos e/ou neutropenia. No entanto, estudos adicionais e com maior casuística são necessários para melhor compreensão de tais achados.