Revista Opinião Filosófica (Nov 2023)
Pode uma crença imoral ser epistemicamente racional?
Abstract
Entre as diversas maneiras de avaliar a racionalidade e adequação de crenças, a relação entre duas dimensões se destaca: a dimensão epistêmica e a dimensão moral. Uma crença é epistemicamente racional quando é devidamente apoiada pela evidência e é moralmente adequada quando sua formação e manutenção é sensível a características morais das situações relevantes. De acordo com a visão tradicional, conhecida na literatura como purismo, a dimensão moral não impacta diretamente a dimensão epistêmica. Entretanto, existe discussão na literatura sobre a existência de crenças imorais que parecem, à primeira vista, epistemicamente racionais. Estas crenças que possuem conflito normativo levantam o desafio que é explicar como diferentes tipos de normatividade (moral e epistêmica) se relacionam. Teorias não-tradicionais defendem que existe infiltração de padrões morais na racionalidade epistêmica. A infiltração moral é a visão de que fatores morais podem afetar o status epistêmico de uma crença, por exemplo, subindo o limiar de evidência necessária para a crença racional. Esta ideia produz uma resposta natural ao desafio do conflito normativo: ele não existiria porque contextos morais tornam crenças imorais também epistemicamente irracionais, já que existe infiltração nos padrões evidenciais. Neste artigo, defenderei que crenças imorais não podem ser epistemicamente racionais, isto é, não pode existir conflito genuíno entre normatividade moral e epistêmica. Entretanto, isso não se deve ao fato de que existe infiltração moral na racionalidade epistêmica. Deve-se, sim, ao fato de que crenças imorais nunca respondem adequadamente à evidência. Elas são imorais porque insensíveis ao contexto moral e epistemicamente irracionais porque insensíveis à evidência disponível. Esta explicação é compatível com o purismo e, como é a opção teoricamente mais parcimoniosa, devemos adotar uma visão purista na epistemologia.
Keywords