Revista Brasileira de História da Educação (Nov 2022)
RBHE em tempos de celebração, perplexidades e retrocessos
Abstract
O ano em que se comemora o Bicentenário da Independência do Brasil pode ser tomado como um marcador importante para se pensar inúmeras iniciativas voltadas para a construção da nação. Uma delas se refere precisamente ao mundo dos impressos, o que também ajuda a nos afastar e problematizar a historiografia que reduz o complexo processo da emancipação do Brasil a uma cena, um homem, uma data e um enunciado imperativo. Como se sabe, a partir da transferência e necessidade da Corte portuguesa de se comunicar com os súditos, diversos e distribuídos desigualmente no vasto território do Brasil, D. João VI autorizou a criação da Impressão Régia. A primeira tipografia brasileira publicou alguns livros e decretos até que, em 10 de setembro de 1808, lançou a Gazeta do Rio de Janeiro, considerada a primeira publicação impressa seriada realizada no Brasil. Depois, outras tipografias foram instaladas em outras regiões e, paulatinamente, o Brasil foi ingressando naquilo que Anderson (2008) designou de "capitalismo tipográfico". A partir de então, é possível observar, efetivamente, a proliferação da publicação de panfletos, jornais, revistas, relatórios, anuários e livros. Essa produção impressa variava tanto em termos de conteúdo, projeto editorial, formatos e destinatários. É igualmente possível observar que os responsáveis, isto é, os editores também apresentavam (e apresentam) pertencimentos os mais diversos; o que reforça a percepção do caráter estratégico da palavra impressa e das disputas no campo da comunicação social, da construção da opinião pública, mais ou menos especializada/especializante, pela ação de selecionar, priorizar e disseminar alguns acontecimentos sociais, de modos bem determinados, a ponto de ser considerada o “quarto poder”, confirmando a máxima da inexistência de poder sem imprensa e de imprensa sem poder.