Revista Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (Jan 2025)
Tratamento Farmacológico das Dimensões Sintomáticas da Perturbação de Personalidade Borderline: Recomendações Baseadas na Evidência
Abstract
A perturbação de personalidade borderline (PPBL) constitui‑se como uma perturbação da personalidade usualmente exigente quanto ao tratamento, caracterizada por desregulação afetiva persistente, instabilidade da identidade ou autoestima, impulsividade, conflitos interpessoais persistentes e comportamentos autolesivos. O intenso sofrimento subjetivo e o aumento das necessidades de saúde também são característicos desta perturbação. Embora a psicoterapia seja o tratamento gold‑standard, o tratamento farmacológico torna‑se necessário em vários casos. As presentes recomendações visam uma melhor gestão farmacológica da PPBL, fundamentada numa revisão abrangente da literatura que incluiu estudos relevantes e orientações clínicas de organizações como o National Institute for Health and Care Excellence, a World Federation of Societies of Biological Psychiatry e o Australian National Health and Medical Research Council. Diferentes fármacos podem efetivamente melhores diferentes dimensões sintomáticas: alterações cognitivo‑percetuais, desregulação afetiva, impulsividade e disfunção interpessoal. As principais conclusões indicam que os antidepressivos, particularmente os ISRS e os tricíclicos, demonstram eficácia na redução dos sintomas depressivos e da impulsividade. Os estabilizadores de humor, incluindo a lamotrigina e o valproato, mostraram benefícios para a desregulação emocional e comportamentos impulsivos. Os antipsicóticos, nomeadamente o aripiprazol e a olanzapina, proporcionam alívio da desregulação emocional severa e da agressão impulsiva. Destaca‑se a eficácia do aripiprazol no tratamento de todas as dimensões sintomáticas. Contudo, uma consideração cuidadosa do perfil de efeitos adversos é crucial, dado o potencial para efeitos indesejáveis, particularmente em populações vulneráveis. Apesar da utilidade reconhecida das intervenções farmacológicas, as limitações na literatura existente, como a variabilidade metodológica e a falta de consenso nas definições de sintomas, limitam a interpretação dos resultados. São necessários estudos longitudinais que avaliem tanto os resultados a curto como a longo prazo do tratamento farmacológico. Um compromisso contínuo com a investigação, dentro de um quadro multidisciplinar, é essencial para otimizar a gestão clínica da PPBL e aprimorar a nossa compreensão da eficácia dos psicofármacos nesta perturbação.
Keywords