Revista Portuguesa Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço (May 2018)
Entrada de Água Através do Tubo de Timpanostomia: Estudo Preliminar com recurso ao Modelo Multifásico de Dinâmica de Fluidos Computacional
Abstract
Objectivos: A miringotomia com tubos é a cirurgia otológica mais comum e na sequência da mesma a maioria dos otorrinolaringologistas recomenda empiricamente a evicção da entrada de água para os ouvidos. O principal objectivo deste trabalho é a análise do comportamento dinâmico do ar-água no interior do canal auditivo externo e do tubo transtimpânico durante a submersão. Desenho do Estudo: Modelo multifásico de Dinâmica de Fluidos Computacional (CFD) Material e métodos: Utilizaram-se imagens de uma tomografia computorizada de ouvidos de uma criança para definir a geometria do ouvido externo e médio, posteriormente empregue para a construção de um modelo multifásico ar-água de dinâmica dos fluidos computacional (CFD). Este modelo foi usado para estudar a entrada de água e a saída de ar pela tuba auditiva. Resultados: O modelo multifásico CFD descreve eficazmente a progressão da frente líquida no canal auditivo externo, o comportamento do ar retido e a sua saída através da tuba auditiva. Prevê, igualmente, sob que condições ambientais a água atravessa o tubo transtimpânico até ao ouvido médio. Na simulação de elevação de pressão num canal contendo água, enquanto à superfície (sem aumento de pressão na nasofaringe), a água atravessou quase imediatamente o tubo transtimpânico. Na simulação de submersão, com aumento paralelo de pressão na nasofaringe, a água nunca penetrou medialmente no canal, e assim, nunca observámos água através do tubo. Verificámos deste modo que a variação da pressão na nasofaringe em paralelo com a do exterior (por vaso comunicante através da fossa nasal) dificulta a passagem de água no tubo quando em imersão Conclusões: O que observámos no modelo está alinhado com os resultados previamente publicados pelo que o consideramos adequado para estudar o comportamento da água e do ar retido no ouvido externo e médio. Os resultados ampliam os conhecimentos anteriores, por incluir a função de escape da tuba auditiva. Nas mesmas condições dos modelos previamente publicados (não considerando a função tubaria) os nossos resultados são concordantes com os da literatura, constatando-se passagem de água com pressão através do tubo. Contudo, em submersão e considerando a função tubária, no nosso modelo constatámos que em profundidades inferiores a 1 metro a água não atravessou o tubo.
Keywords