Revista de Filosofia (Apr 2021)

Entre teses e textos: Como o tema da inferioridade da mulher aparece nos ensaios que Freud dedica à sexualidade feminina?

  • Léa Silveira

DOI
https://doi.org/10.7213/1980-5934.33.058.DS01
Journal volume & issue
Vol. 33, no. 58

Abstract

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O pensamento freudiano certamente conta entre as próprias condições de possibilidade do feminismo. A tese da bissexualidade originária do ser humano é fundamental nesse sentido porque ela serve de ponto de partida para a ideia de que a sexuação resulta de um processo, resulta de um tornar-se. Não estando dada de uma vez por todas, como se se tratasse de algo natural, ela pode ser entendida tanto no seu fator disruptivo relativamente a uma série de constrições tradicional e ideologicamente vinculadas ao organismo biológico, quanto nas possibilidades históricas que carrega consigo naquilo que concerne à própria construção do humano. Mas, por outro lado, não podemos negligenciar o fato de que as últimas considerações de Freud sobre a sexualidade feminina apresentam teses inapelavelmente inaceitáveis. Entre elas, lembremos que Freud situa as mulheres na contracorrente da civilização ao sustentar que nós seríamos menos capazes de sublimação e que possuiríamos um Supereu mais fraco. O objetivo do artigo é mostrar em detalhe como Freud tece suas teses a respeito da inferioridade feminina, sem diminuir o tom dessas teses, sem escamoteá-las e, ao mesmo tempo, tentando mostrar como elas produzem suas próprias armadilhas, ou seja, tentando destacar os momentos em que a argumentação de Freud simplesmente não se sustenta, ficando refém de modo não marginal de alguns preconceitos próprios.

Keywords