Remate de Males (Dec 2012)

O diálogo dos mortos de Paul Valéry

  • Brutus Abel Fratuce Pimentel

DOI
https://doi.org/10.20396/remate.v32i2.8635897
Journal volume & issue
Vol. 32, no. 2

Abstract

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O objetivo deste artigo é analisar o diálogo Eupalinos, ou o Arquiteto, do poeta francês Paul Valéry (1871-1945). Evocando os diálogos de Platão, o Eupalinos é um diálogo dos mortos de grande intensidade poética, entre as errantes almas de Sócrates e de Fedro, que agora se encontram numa inesperada dimensão espiritual, extremamente movente e de difícil compreensão. Essas duas personagens dialogam sobre a arte e o fazer artístico, através das concepções do obscuro arquiteto-engenheiro Eupalinos, mas também sobre a tradicional ontologia platônica, segundo a qual a realidade é dividida em duas dimensões: a sensível-material, na qual as almas encarnadas habitam e distanciam-se da Verdade, e a inteligível-espiritual, na qual as almas desencarnadas habitam e aproximam-se da Verdade, das supostas matrizes de toda a realidade, das Ideias. Ideias que as almas de Sócrates e Fedro não encontram. Através desse jogo de inversão, Valéry executa, no Eupalinos, uma “crítica” às filosofias que “desvalorizam” a dimensão sensível-material em favor da inteligível-espiritual, uma “inversão do platonismo” e uma “apologia do corpo”.

Keywords