Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)

ESPIROQUETOSE INTESTINAL COMO MANIFESTAÇÃO DE SÍFILIS EM PACIENTE VIVENDO COM HIV

  • Felipe Arthur Faustino de Medeiros,
  • Vitor Falcão de Oliveira,
  • Julia Ferreira Mari,
  • Lara Silva Pereira Guimarães,
  • Juliana Cavadas Teixeira,
  • Pedro da Silva Campana

Journal volume & issue
Vol. 26
p. 101839

Abstract

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Homem cisgênero, 43 anos, vivendo com HIV desde 2018, em uso de Tenofovir 300 mg + Lamivudina 300 mg + Dolutegravir 50 mg desde 2019, carga viral indetectável, com contagem de LTCD4+ de 1268 células, vem com quadro de hematoquezia intermitente, associada a evacuação pastosa com muco, de evolução há um mês, não acompanhada de febre ou perda de peso. Realizada colonoscopia diagnóstica, sendo visualizadas lesões ulceradas com fundo de fibrina, não sangrantes, em todo o intestino grosso, sendo realizadas biópsias, com anátomo-patológico evidenciando espiroquetose intestinal colônica (EIC), com presença de espiroquetas filamentosas densamente compactadas na superfície do intestino grosso. Em exames laboratoriais, paciente com VDRL 1/32, sendo o anterior ½, interpretado como cicatriz sorológica após tratamento de Neurossífilis há 04 anos. Paciente foi tratado com Penicilina G Benzatina 7.200.000 UI, divididas em três tomadas, com melhora completa dos sintomas após início do tratamento. A espiroquetose intestinal causada pelo Treponema pallidum, agente etiológico da Sífilis, é uma apresentação incomum e pouco descrita na literatura da doença. Na descrição original da patologia, vemos espiroquetose intestinal humana caracterizada pela presença de espiroquetas na superfície luminal da mucosa do intestino grosso, sendo usualmente causada por um grupo heterogêneo de organismos relacionados, principalmente Brachyspira aalborgi e Brachyspira pilosicoli, que são geneticamente não relacionados ao Treponema pallidum. A apresentação clínica é espectral, sendo desde assintomática até quadros de diarréia crônica persistente, constipação, dor abdominal, sangue nas fezes, vômitos ou náuseas, ou muco nas fezes, ou até mesmo quadros que podem mimetizar apendicite aguda. Ademais, podem apresentar abscessos ou úlceras na macroscopia devido à reação inflamatória à presença das espiroquetas na mucosa colônica. Segundo estudos, as pessoas que vivem com HIV têm uma maior chance de apresentarem EIC em comparação com os casos HIV-negativos, e não está correlacionada com a carga viral. O diagnóstico direto consiste na visualização de espiroquetas na mucosa intestinal, e o indireto pode ser feito com exames treponêmicos e não-treponêmicos séricos, em comparação com anteriores do paciente. Identificada como uma manifestação de visceralização da Sífilis mas também como uma manifestação de Sífilis secundária, o tratamento pode variar entre 2.4 a 7.2 milhões de unidades de Penicilina G Benzatina.