Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
IDENTIFICAÇÃO DE TRÊS CASOS DE SÍNDROME HIPEREOSINOFÍLICA MIELOPROLIFERATIVA ASSOCIADA A MUTAÇÃO GENÉTICA FIP1L1-PDGRα
Abstract
Objetivos: A Síndrome Hipereosinofílica (SHE) é definida como eosinofilia por mais de 6 meses sem outra causa clinicamente identificável. Sua variante mieloproliferativa está associada a uma pequena deleção no locus CHIC2, que causa fusão dos genes FIP1L1-PDGRFα. Objetiva-se descrever uma série de três casos de pacientes portadores desse rearranjo gênico com SHE mieloproliferativa, em serviço de referência em Oncohematologia Pediátrica em Itabuna, BA. Material e métodos: Estudo dos prontuários médicos. Resultados: Caso 1: C.M.C, menina, 13 anos, com febre e cefaleia, necessitou de hemotransfussão por anemia grave e foi encaminhada para serviço especializado. Ao exame físico, máculas acastanhadas típicas de Neurofibromatose tipo 1 (NF1) em dorso, sopro diastólico grau II em foco aórtico e esplenomegalia, confirmada por TC. Ao hemograma, anemia (7,6 g/dL), leucocitose (48.100 mm3), eosinofilia (10.580 mm3) e trombocitopenia (117.000 mm3). À ecocardiografia, hipertrofia excêntrica do ventrículo esquerdo e Insuficiência Aórtica (IAo). Ao mielograma, hipercelularidade, espículas hipercelulares e dispoiese leve do setor granulocítico, eosinofilia (16%). O diagnóstico molecular revelou fusão dos genes FIP1L1-PDGRFα, confirmando Leucemia Eosinofílica Crônica (LEC). Caso 2: V.G.A., menino, 16 anos, com dor abdominal e perda ponderal (-12 kg) e esplenomegalia, confirmada por USG. Ao hemograma, anemia (10,5 g/dL), leucocitose (19.720 mm3), neutrofilia (4.772 mm3), eosinofilia (11.142 mm3) e trombocitopenia (135.000 mm3). Ao coagulograma, TP (16,2s), TTPA (42,6s), RNI (1,29). Ao mielograma, setor leucocitário hipercelular com metamielócitos gigantes, eosinofilia (30%), setor eritrocitário hipocelular. No diagnóstico molecular, translocação dos genes FIP1L1-PDGRFα, corroborando para LEC. À ecocardiografia, IAo. Caso 3: K.S.S., menino, 17 anos, com febre, cefaleia, faringoamigdalite, conjuntivite purulenta bilateral e abscessos cutâneos em região genital e MMII. Ao hemograma, anemia (10,9 g/dL), leucocitose (40.400 mm3), neutrofilia (16.100 mm3) e eosinofilia (16.564 mm3). Ao mielograma, setor granulocítico hipercelular, eosinofilia (36,9%), setor eritrocitário hipocelular. No diagnóstico molecular, fusão FIP1L1-PDGRFα, confirmando LEC. Discussão: Os três casos relatados, apesar de diferentes cursos clínicos, apresentaram um mesmo diagnóstico etiológico. Variáveis em múltiplos aspectos, os casos apresentam pontos em comum: a anemia e a leucocitose com eosinofilia e trombocitopenia, embora somente a eosinofilia persistente sem causa identificável seja indispensável para o diagnóstico da SHE. A lesão cardíaca encontrada nos Casos 1 e 2 são típicas na LEC, por necrose aguda do endocárdio e posterior fibrose endomiocárdica. No Caso 1, os achados típicos de NF1 se correlacionam com uma maior predisposição de portadores de NF1 em desenvolverem neoplasias mieloproliferativas (NMP). Esplenomegalia, presente nos Casos 1 e 2, é achado comum nas NMP, tal como coagulopatia, presente no Caso 2. Conclusão: A detecção de distúrbios clonais específicos revolucionou o diagnóstico da SHE mieloproliferativa. A rara incidência e as múltiplas formas de apresentação clínica dificultam o diagnóstico e o manejo. Mais estudos são necessários para determinar os padrões de incidência da mutação FIP1L1-PGRFα e suas possíveis repercussões patológicas.