CSOnline (Jan 2010)
Políticas públicas: uma abordagem teórico-metodológica nos campos da ciência política e da antropologia
Abstract
Apesar de não existir um consenso entre os cientistas políticos no que se refere a uma melhor ou mais aceitável definição de política pública, todas elas, mesmo as mais minimalistas, guiam o nosso olhar para o locus onde acontecem os embates, qual seja, o governo. Assim, pode-se dizer que hegemonicamente a ciência política partiu da perspectiva do Príncipe para melhor entender as ações do Estado. Os antropólogos, por sua vez, ao se depararem com as políticas governamentais, tenderam a analisar as políticas sociais, concentrando-se sobremaneira nos desvios, nos subterfúgios e nos “mecanismos de defesa” usados pelos setores das camadas menos favorecidas para enfrentar os poderes estatais. Desta forma, pode-se falar em uma clivagem em torno da hierarquia social dos objetos: enquanto a ciência política esteve preocupada com o “studying up”, a antropologia orientou os seus esforços para o “studying down”. A presente comunicação pretende ensejar uma discussão teórico-metodológica em torno do tema políticas públicas, sublinhando os modelos de análise forjados tanto pela ciência política quanto pela antropologia. O objetivo é aproximar as duas matrizes disciplinares que apenas artificialmente podem ser consideradas distintas. Assim, utilizarei dois textos – um de caráter antropológico; outro, pertencente ao campo da ciência política – que versam sobre o mesmo assunto, qual seja, o Orçamento Participativo. Em um primeiro momento apontarei para como as perspectivas podem ser complementares, para em seguida demonstrar a grande distinção entre as duas, qual seja: enquanto a ciência política está interessada na moralidade das instituições, a antropologia preocupa-se com a moralidade dos atores.