Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES COM DOENÇA FALCIFORME QUE EVOLUÍRAM PARA ÓBITO, ATENDIDOS EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA PÚBLICO EM MATO GROSSO

  • SS Araujo,
  • RCG Bezerra,
  • BSN Souza,
  • EGA Sá,
  • MLP Perri,
  • GHG Dib,
  • GJ Nascimento

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S1180

Abstract

Read online

Objetivo: Investigar o perfil epidemiológico dos pacientes com doença falciforme (DF), atendidos no Hemocentro Coordenador do estado de Mato Grosso (HC/MT), que evoluíram para óbito, entre 2002 e 2022. Material e métodos: Trata-se de estudo epidemiológico descritivo, com análise da frequência relativa (%) das variáveis sexo, faixa etária, escolaridade e raça/cor dos óbitos por DF (D57, segundo a CID-10), ocorridos entre 2002 e 2022, em residentes no Brasil e em MT, contidas no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Para a avaliação dos óbitos por DF, no mesmo período, dos pacientes residentes em MT e atendidos no HC/MT, considerou-se a frequência relativa (%) das variáveis sexo, faixa etária, escolaridade, raça/cor e DF por genótipo, presentes nos prontuários médicos. Resultados: Foram identificados, no Brasil, entre 2002 e 2022, 8402 óbitos por DF, sendo 50% do sexo masculino, 22% na faixa etária 20-29 anos (71% menores de 40 anos), 75% pardos e pretos e 31% com escolaridade ignorada, seguido de 24% com 8 a 11 anos de estudo. Em MT, foram 149 óbitos por DF, sendo 52% do sexo masculino, 20% na faixa etária 30-39 anos (81% menores de 40 anos), 76% pardos e pretos e 30% com escolaridade ignorada, seguido de 27% com 8 a 11 anos de estudo. Nesse período, dentre os óbitos por DF de residentes de MT, 61 (41%) eram pacientes atendidos no HC/MT, sendo 51% do sexo feminino, 16% na faixa etária 20-29 anos (58% menores de 40 anos), 83% pardos e pretos e 59% com escolaridade ignorada, seguido de 16% com 4 a 7 anos de estudo. Do total de óbitos entre pacientes (HC/MT), 85% eram genótipos SS, 13% SC e 2% SB. Discussão: A DF representa um importante problema de saúde pública, com alta morbimortalidade. Portanto investigar os fatores sociodemográficos é fundamental. Por ser uma doença genética, a literatura científica vem apontando semelhança entre os sexos masculino e feminino. Em adultos jovens, as infecções virais e bacterianas são as causas mais frequentes de óbitos. Sinais e sintomas podem comprometer as relações sociais, a educação e o trabalho de pessoas com DF, interferindo na renda familiar bem como na capacidade de prevenção e cuidado das complicações, principalmente na população negra, considerado o grupo mais vulnerável e de menor poder aquisitivo, com maior dificuldade no acesso aos serviços de saúde e menor adesão ao tratamento. Em relação ao genótipo SS, estes apresentam maior gravidade clínica e hematológica, que podem levar a internações hospitalares frequentes e maior risco de óbito. Ressalta-se a importante perda nos dados de escolaridade, indicando a necessidade de melhoria da qualidade dos registros dos dados em todas as esferas. Conclusão: Apesar dos avanços em decorrência da criação da Política Nacional de Atenção às Pessoas com DF, a morbimortalidade ainda é preocupante, principalmente devido ao perfil da população que evolui para o óbito. Desta forma, percebe-se a necessidade de maior controle sobre as ações na rede de Atenção Básica para garantir maior eficácia na prevenção e tratamento precoce das complicações, tanto para a melhoria da qualidade de vida quanto para mitigar os óbitos nessa população.