Convergências - Revista de Investigação e Ensino das Artes (Nov 2024)

O que se ganha, o que se perde

  • Luiz Sérgio de Oliveira

DOI
https://doi.org/10.53681/c1514225187514391s.34.233
Journal volume & issue
Vol. 17, no. 34

Abstract

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Articulando noções da história das cidades, história da arte pública, morfologia urbana e urbanismo crítico, este artigo aproxima dois projetos de arte que se inserem no escopo das ausências e memória nas cidades contemporâneas. De um lado, uma cidade que via o mar de sua janela, antes que sucessivos aterramentos afastassem o mar até que ele se perdesse na paisagem. A cidade do Rio de Janeiro, em continuados processos de transformações urbanas, viu suas feições transmutarem ao limite do não-reconhecimento. O projeto de Guga Ferraz (Até onde o mar vinha, até onde o Rio ia, 2014) refaz simbolicamente as linhas de toque entre o mar e a cidade do Rio de Janeiro, desaparecidas no início da década de 1920. Na outra ponta, um projeto de arte pública que recria, em sua forma arquitetural mais simplificada, aquilo que foi vida para uma comunidade que saudava a alegria de viver no Píer 52, às margens do Hudson River, Nova York. A obra Day´s End (2014-2021), do artista estadunidense David Hammons, redesenha na memória e nos espaços etéreos que pairam entre rio, cidade e horizonte, os traços do armazém à beira-rio que, suprimido da paisagem, sobrevive em suas linhas fantasmáticas. Cada qual à sua maneira, os trabalhos de Guga Ferraz e David Hammons parecem replicar, em sua fantasmagoria, o abandono de cidades aviltadas por sucessivos processos de gentrificação.

Keywords