Acta Médica Portuguesa (Jul 2023)

Prevalência da Dispensa de Medicamentos em Ambulatório na População Idosa em Portugal: Um Estudo Transversal

  • Ana Carmona Araújo,
  • Elisabete Fernandes,
  • Inês Franco Ruivo,
  • Maria do Céu Machado,
  • António Faria Vaz,
  • Cláudia Furtado

DOI
https://doi.org/10.20344/amp.19254

Abstract

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Introdução: À semelhança de outros países, a pirâmide etária em Portugal tem sofrido alterações profundas, com um expressivo aumento na dimensão da população idosa. A multimorbilidade que surge com o envelhecimento leva, frequentemente, à utilização concomitante de vários medicamentos. A polimedicação é particularmente importante no idoso devido às alterações fisiológicas associadas ao processo de envelhecimento, que aumentam o risco de interações medicamentosas, de fraca adesão à terapêutica e de reações adversas à medicação, em particular nos indivíduos muito idosos (85 ou mais anos). Dado que a dimensão da população idosa poderá aumentar significativamente, importa caracterizar o padrão de consumo de medicamentos pelos idosos, identificando também os casos de polifarmácia, de forma a gerar-se evidência que permita o desenvolvimento de medidas específicas de combate à elevada prevalência de utilização e riscos associados. Assim, o objetivo desta análise preliminar foi determinar a prevalência e caracterizar do padrão de utilização de medicamentos pelos idosos em Portugal, desagregando por faixa etária, sexo e localização geográfica. Métodos: Estudo transversal com dados relativos aos medicamentos comparticipados e dispensados nas farmácias comunitárias de Portugal Continental em 2019, aos utentes com mais de 65 anos. Efetuou-se análise descritiva demográfica e geográfica, por denominação comum internacional e grupo terapêutico. A utilização foi estudada através do número de embalagens comparticipadas dispensadas e número de embalagens comparticipadas dispensadas per capita (dados do Instituto Nacional de Estatística). Resultados: Observou-se uma dispensa superior nas mulheres, a qual foi aumentando com a idade, à exceção dos idosos 85+, nos quais a diferença tendeu a diminuir. No que diz respeito ao número de embalagens comparticipadas dispensadas per capita, a tendência foi inversa, com os homens muito idosos a ultrapassarem as mulheres 85+ (média de embalagens: 55,5 nos homens versus 55,1 nas mulheres). Nas mulheres, os medicamentos mais consumidos foram os do foro cardiovascular (31%), seguidos dos prescritos para o sistema nervoso central (30%) e antidiabéticos (13%). Nos homens, o ranking foi liderado também pelos medicamentos para o aparelho cardiovascular (37%); contudo, em segundo lugar surgem os antidiabéticos (16%), seguidos dos medicamentos para a hiperplasia benigna da próstata (14%). Conclusão: Existiram diferenças de sexo e idade relevantes no padrão de dispensa de medicamentos comparticipados nos idosos portugueses em 2019. Esta é a primeira análise publicada de âmbito nacional à dispensa de medicamentos em idosos, sendo essencial para caracterizar o perfil de utilização de medicamentos pelos seniores em Portugal.

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