Cadernos de Saúde (Dec 2023)

Doença crónica – um conceito longínquo na ilha do Príncipe. Relato de prática

  • Francisco Pacheco Vaz Antunes,
  • Ana Margarida Lopes Madeira

DOI
https://doi.org/10.34632/cadernosdesaude.2023.11784
Journal volume & issue
Vol. 15, no. 2

Abstract

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Introdução: Entre 1990 e 2019 houve uma duplicação do número de adultos com o diagnóstico de hipertensão arterial (HTA). Nestes, destaque para o caso de São Tomé e Príncipe (STP), país com a quinta maior prevalência de HTA entre mulheres (48%). A pertinência do seu diagnóstico está relacionada com a sua forte relação com a incidência de vários eventos cardiovasculares, sendo a principal causa de mortalidade prematura em 2015. Relativamente ao tratamento sabe-se que a HTA apenas é adequadamente controlada em cerca de 13% das pessoas diagnosticadas em todo o Mundo, sendo que na África subsariana grande parte das pessoas com HTA desconhece os seus riscos, permanecendo não diagnosticada, não tratada ou tratada inadequadamente. Objetivos: Rastrear a HTA na ilha do Príncipe e aumentar a literacia em saúde da população para este tema. Material e métodos: Durante 4 anos não consecutivos, em períodos de 2 semanas, foram realizadas intervenções em saúde por parte de 2 médicos portugueses na ilha do Príncipe, em STP. As intervenções consistiram sobretudo em consultas médicas, com o auxílio de componentes de diagnóstico e avaliação básicos, bem como em ações de formação.Resultados: Foram realizadas 806 consultas, a um total de 640 adultos, nos quais se constatou uma prevalência de HTA de 72,3%, com um total de 50,5% de diagnósticos inaugurais de HTA. A adesão à terapêutica anti-hipertensora registada foi de 25,5% na globalidade, tendo sido de 36,6% no subgrupo em que a medicação foi instituída pela equipa médica. De referir ainda a prevalência de 12,5% de obesidade e de 11,7% de diabetes mellitus tipo II.Conclusão: Num país com uma elevada prevalência de HTA são necessários esforços no sentido de prevenir a sua existência, sobretudo através do aumento da literacia em saúde e de aconselhamentos para um estilo de vida saudável adequados à realidade local. Por outro lado, o conceito de medicação crónica não está enraizado na população, sendo a adesão à terapêutica uma grande barreira no sucesso clínico, agravado pela inexistência de um seguimento médico regular. Serão protagonizadas novas ações junto da população no sentido de fomentar essas medidas.

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