Revista Brasileira de Anestesiologia (Jan 2004)

Abscesso peridural após analgesia controlada pelo paciente por via peridural: relato de caso

  • Abreu Múcio Paranhos de,
  • Deda Roberto de Góis,
  • Cangiani Luis Henrique,
  • Aquino Hernando Mauro Diógenes,
  • Ortiz Jair

Journal volume & issue
Vol. 54, no. 1
pp. 78 – 83

Abstract

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JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A analgesia peridural é freqüentemente utilizada para o controle da dor pós-operatória ou para tratamento da dor crônica em pacientes oncológicos. No entanto, não está isenta de complicações. Neste caso, relatamos a ocorrência de abscesso peridural em paciente jovem, hígida, que foi submetida a analgesia peridural em bomba de infusão controlada pela paciente, que apresentou abscesso peridural, sendo necessária descompressão cirúrgica. RELATO DO CASO: Paciente do sexo feminino, 24 anos, 56 kg, 1,65 m, estado físico ASA I, com história de lombalgia e dificuldade de flexão da coxa esquerda, foi submetida à cirurgia para liberação da musculatura posterior do quadril. Três dias após a alta hospitalar retornou ao hospital queixando-se de dor no local da incisão cirúrgica e durante a realização dos exercícios fisioterápicos. Foi internada e programada analgesia controlada pelo paciente (ACP) por via peridural, para possibilitar o tratamento fisioterápico. No centro cirúrgico foi feita sedação por via venosa com midazolam (2,5 mg) e fentanil (25 µg), anti-sepsia da pele e realizada punção peridural no espaço L3-L4. Após dose teste foram injetados ropivacaína a 0,75% (75 mg) e fentanil (100 µg) e passado cateter peridural em sentido cefálico, sem intercorrências. Foi instalada bomba de ACP contendo solução fisiológica a 0,9% (85 ml), bupivacaína a 0,5% (25 mg) e fentanil (500 µg), programada com fluxo constante de 4 ml.h-1 e bolus de 2 ml a cada 20 minutos. No 3º dia a paciente relatou incômodo no local da inserção do cateter, sendo o mesmo retirado. Havia discreta hiperemia no local. Após vinte e dois dias, a paciente retornou ao hospital com dor de grande intensidade na região lombossacra com irradiação para os membros inferiores e limitação dos movimentos. Não havia deficit neurológico ou sinais flogísticos no local da punção ou na ferida operatória. Foi feita hipótese de abscesso peridural e a ressonância nuclear magnética confirmou a presença do mesmo em L3-L4 (2 x 3 cm), realizada laminectomia, a cultura do material mostrou tratar-se de staphilococcus aureus. A paciente evoluiu bem, sem seqüela neurológica. CONCLUSÕES: A analgesia peridural, muitas vezes utilizada para o controle da dor pós-operatória ou da dor crônica, embora muito efetiva, não está livre de complicações, ainda que raras, como o abscesso peridural.

Keywords