Trabalhos em Linguística Aplicada (Nov 2016)
A prática da citação na universidade: as referências à informação científica em trabalhos acadêmicos
Abstract
Os estudos sobre a citação como objeto do letramento acadêmico ou universitário ainda são raros na linguística aplicada brasileira; no entanto, a prática da citação é um objeto privilegiado para compreendermos a complexidade do acesso às referências teóricas e à escrita de pesquisa na Universidade. Este trabalho tem como pressupostos centrais o letramento informacional, em sua abordagem inclusiva (SILVA, 2008), e o letramento ecológico, em sua abordagem sociodiscursiva (BARTON, 1998; IVANIC, 1998; KLEIMAN, 1995). A partir desse pressuposto, portanto, o evento de letramento mediado pela escrita de pesquisa e pelo uso da citação na universidade deve ser percebido como uma prática discursiva (COMPAGNON, 1996; BOCH & GROSSMANN, 2001 e 2002) e, nessa perspectiva, a investigação sobre os modos de referência ao discurso teórico, incluindo a citação de fontes, permite trazer à tona os problemas de acesso à informação e ao discurso teórico e, ao mesmo tempo, de acesso ao letramento universitário em diferentes países e contextos socioculturais. A pesquisa analisou 30 (trinta) trabalhos acadêmicos de final de curso de duas universidades brasileiras – a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – e de uma universidade portuguesa, a Universidade do Porto (UP). No total de trabalhos pesquisados, identificamos 699 (seiscentos e noventa e nove) referências ao discurso teórico, incluindo a citação, sendo 249 nos trabalhos dos estudantes da UNEB, 195 nos trabalhos dos estudantes da UNICAMP e 255 nos trabalhos dos estudantes da UP. Após a análise qualitativa dos dados, constatamos que, tal como apontam os pesquisadores franceses Françoise Boch e Francis Grossmann, estudantes de ambos os países utilizam com mais frequência o recurso da citação autônoma, ou seja, a inserção literal de partes do discurso teórico de referência enquanto as reformulações e evocações são menos valorizadas no conjunto dos trabalhos. Os dados sugerem, portanto, que essa tendência se deve mais ao estágio de iniciação à escrita de pesquisa do que a fatores ligados aos contextos socioculturais ou de nacionalidade