Revista Portuguesa de Pneumologia (Jul 2003)

Vigilância laboratorial da resistência aos antibacilares em Portugal em 2000 - 2001

  • Cristina Furtado,
  • Laura Brum

Journal volume & issue
Vol. 9, no. 4
pp. 279 – 291

Abstract

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RESUMO: INTRODUÇÃO: Iniciado em Abril de 2000, o Sistema Nacional de Vigilância da Resistência aos Antibacilares (VigLab-Tuberculose) constitui um sistema de vigilância de base laboratorial, assente nos laboratórios nacionais que executam testes de sensibilidade aos antibacilares de 1.ª linha, e tem como finalidade conhecer e monitorizar o padrão de resistência das estirpes de Mycobacterium tuberculosis isoladas em Portugal.OBJECTIVO: Neste artigo descrevemos o padrão de resistência aos antibacilares de 1ª linha nos casos de tuberculose diagnosticados em Portugal em 2000 e 2001 e declarados ao VigLab-Tuberculose.MATERIAL E MÉTODOS: Participam no VigLab-Tuberculose os 15 laboratórios que em 2000 e 2001 realizavam o teste de sensibilidade aos antibacilares de 1.ª linha. Estes laboratórios colhem dados demográficos, clínicos e laboratoriais dos casos de Mycobacterium tuberculosis complex em que foi realizado o teste de sensibilidade aos antibacilares. O tratamento dos dados foi efectuado em Epi-Info versão 6.04c.RESULTADOS: No período de 1 de Abril de 2000 a 31 de Dezembro de 2001 foram declarados os resultados dos testes de sensibilidade aos antibacilares de 4170 doentes em que foi isolado o Mycobacterium tuberculosis complex. Do total dos casos testados em simultâneo para os 5 fármacos, 23% (541/2358) apresentaram resistência a pelo menos um dos fármacos de 1.ª linha. Observou-se monorresistência à estreptomicina em 7,6% (179/2358) dos casos testados, à isoniazida em 2,6% (62/2358), à rifampicina em 0,6% (15/ /2358) e à pirazinamida em 1,3% (30/2358). Dos 4164 casos testados em simultâneo para a isoniazida e rifampicina, 244 (5,9%) foram multirresistentes. Dos doentes classificados como casos novos de tuberculose, 1,8% (28/1557) foram monorresistentes à isoniazida, 0,4% (7/1557) à rifampicina, 4,2% (66/1557) à estreptomicina e 1,7% (27/1557) à pirazinamida. A frequência de multirresistência primária foi de 2,8% (43/1557) e adquirida de 13,3% (41/309).CONCLUSÃO: Para os primeiros dois anos de actividade do VigLab-Tuberculose, a taxa de 80% de participação dos laboratórios é muito encorajadora. A frequência de multirresistência primária e adquirida observada estão acima dos valores actualmente declarados na Europa Central e Ocidental (<1% de multirresistência primária), o que justifica só por si a necessidade de mantermos e reforçarmos a vigilância laboratorial e, assim, contribuir para minimizar a emergência das resistências em Portugal.REV PORT PNEUMOL 2003; IX (4): 279-291 ABSTRACT: BACKGROUND: A network for the Surveillance of Antituberculosis Drug Resistance (VigLab-Tuberculose), including all the mycobacterial laboratories where drug susceptibility test on isolates of Mycobacterium tuberculosis complex are carried out, was established in Portugal in April 2000. VigLab-Tuberculose aims to maintain a laboratory-based surveillance system for antibiotic susceptibilities of Mycobacterium tuberculosis complex isolates in order to monitor trends in drug resistance in Portugal.OBJECTIVE: To describe the first line antituberculosis drug resistance patterns of tuberculosis cases diagnosed and reported to VigLab-Tuberculose in 2000-2001.METHODS: Collaborating laboratories collect and report data on individuals from whom a drug susceptibility test on Mycobacterium tuberculosis complex isolates has been performed in 2000-2001. Data collected included demographic, geographic, clinical and first line antibiotics susceptibility information. Data were analysed using Epi-Info version 6.04c software.RESULTS: There were 4170 reports of drug susceptibility test results on tuberculosis patients diagnosed from 1st April 2000 to 31st December 2001. Drug susceptibility results for all five first line antituberculosis drugs shows that 23% (541/ 2358) were resistant at least to one of them. The proportion of mono-resistance to streptomycin was 7,6% (179/2358), to isoniazid 2,6% (62/2358), to rifampicin 0,6% (15/2358) and to pyrazinamide 1,3% (30/2358). From the 4164 patients tested both to isoniazid and rifampicina, 244 (5,9%) were multidrug resistant. From patients with no history of previous tuberculosis treatment, 1,8% (28/1557) were mono-resistant to isoniazid, 0,4% (7/1557) to rifampicina, 4,2% (66/1557) to streptomycin and 1,7% (27/1557) to pyrazinamide. The proportion of primary multidrug resistance was 2,8% (43/1557) and acquired resistance was 13,3% (41/309).CONCLUSION: The laboratory participation rate was 80%, which is very encouraging for the first two years of VigLab-Tuberculose activities. The proportion of primary multidrug resistance was higher than the reported resistance from central and west Europe (less 1%), which reinforce the need and importance of maintaining and strengthening the laboratory-based surveillance in order to minimise the emergence of drug resistance.REV PORT PNEUMOL 2003; IX (4): 279-291 Palavras-chave: tuberculose, resistência aos antibacilares, vigilância laboratorial, VigLab-Tuberculose, Key-words: tuberculosis, drug resistance, laboratorybased surveillance, VigLab-Tuberculose