Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

FUSARIOSE INVASIVA APÓS TRANSPLANTE AUTÓLOGO DE MEDULA ÓSSEA: UM RELATO DE CASO

  • RO Nalesso,
  • NM Santana,
  • CS Donini,
  • BL Almeida,
  • PP Neffá,
  • EM Rego

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S268 – S269

Abstract

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Introdução: As infecções fúngicas representam um importante desafio quando relacionadas a pacientes imunocomprometidos. Os fungos do gênero Fusarium sp. estão presentes no solo, água e plantas, sendo que ocasionalmente podem infectar humanos. A fusariose é a segunda causa mais comum de infecções fúngicas nos pacientes imunossuprimidos. Os receptores de transplante autólogo de medula óssea não costumam apresentar alto risco de desenvolver esse agravo, principalmente devido à imunossupressão menos intensa quando em comparação ao transplante alogênico, no entanto, casos já foram descritos. Objetivo: Relatar caso clínico referente à fusariose invasiva após transplante autólogo de medula óssea. Métodos: Os dados foram obtidos após revisão do prontuário. Caso clínico: C.L.F, 36 anos, sem comorbidades prévias, diagnóstico em 2021 de Linfoma Difuso de Grandes Células B, subtipo ABC, EC IV. Realizada primeira linha com R-CHOP seguida por radioterapia mediastinal por persistência de doença em pericárdio. Evoluiu com progressão de doença dois meses após radioterapia. Realizadas linhas de tratamento subsequentes: 2ª linha com R-DHAOx, progressão após segundo ciclo e 3ª linha com pembrolizumabe associado à ICE. Após o sexto ciclo foi realizado PET/CT que evidenciou aumento do hipermetabolismo glicolítico em partes moles, realizadas biópsias que descartaram acometimento pela doença onco-hematológica, sendo então considerado como evento imunológico secundário ao uso do inibidor de checkpoint e iniciada corticoterapia. Foram realizados três ciclos adicionais com pembrolizumabe em monoterapia e encaminhada para transplante autólogo de medula óssea em resposta completa. Realizado condicionamento com Benda-EAM e infusão de células progenitoras periféricas em 19/07/2023, apresentou enxertia neutrofílica no D+14. Após ATMO evoluiu com complicações infecciosas, iniciando em 08/08/2023 quadro de lesões cutâneas necróticas disseminadas e sinusite com lesão de septo nasal, as quais sugeriam componente fúngico. Biópsias da pele e do septo nasal resultaram em dermatose linfo-histiocitária com focos supurativos, compatível com a hipótese clínica de fusariose invasiva. Apesar do tratamento com anfotericina B lipossomal e voriconazol, a paciente apresentou piora clínica relacionada ao acometimento pulmonar pela infecção fúngica, evoluindo à óbito em 20/09/2023. Discussão: Pacientes que apresentam neutropenia prolongada são de alto risco para fusariose invasiva. Foram descritas em estudos prévios incidências globais de 6/1000 casos relacionados a transplantes alogênicos e 1.5-2/1000 casos relacionados a transplantes autólogos. Ademais, é necessário levar em consideração o risco de infecções fúngicas associado ao uso de inibidores de checkpoint, tanto pela necessidade de associação de corticoterapia para controle de eventos imunológicos quanto pela linfopenia e neutropenia que podem causar. O prognóstico da infecção no contexto de transplante de medula óssea é muito pobre, principalmente por não haver tratamentos com altas taxas de sucesso. Apesar do desafio para o tratamento, foram alcançados bons resultados com uso de anfotericina B lipossomal e antifúngicos triazólicos. Apesar disso, discute-se que as medidas preventivas são mais importantes que a terapia antifúngica. Conclusão: É incomum a apresentação de fusariose invasiva em pacientes pós transplante autólogo de medula óssea, no entanto, quando ocorre, apresenta importante desafio clínico.