Cadernos de Linguística (Sep 2021)
Familiaridade ou convencionalidade?
Abstract
Metáforas são processadas pelo ouvinte mais lentamente que expressões literais? Em que medida a familiaridade do falante com as expressões metafóricas pode acelerar o processo de compreensão das mesmas? Estudos sobre o processamento da metáfora apresentam divergências quanto ao modo como essa figura de linguagem é interpretada. Alguns autores defendem que metáforas são processadas mais lentamente que expressões literais, tendo em vista a necessidade de observar os três estágios para a compreensão previstos no Modelo Pragmático Padrão (SEARLE, 1979). Evidências do processamento indireto das metáforas, compatíveis com o referido modelo, são reportadas na literatura (JANUS e BEVER, 1985). A prioridade do sentido literal sobre o metafórico tem sido, no entanto, questionado por outros estudos que defendem o processamento direto das expressões metafóricas (GLUCKSBERG, 2003; RICCI, 2016). Uma terceira onda teórica visa a conciliar as teorias, até então, conflitantes, propondo que, a depender do grau de convencionalidade do veículo metafórico, uma metáfora pode ser processada mais lentamente ou no mesmo tempo das expressões literais (BOWDLE e GENTNER, 2005). Nesse arcabouço, nosso estudo resgata a importância da familiaridade já indicada como um fator relevante em estudo experimental prévio (SILVA, 2018). Aqui, apresentamos novas evidências, com base em experimento psicolinguístico de leitura autocadenciada de que o controle efetivo do processamento cognitivo da metáfora recai sobre a familiaridade da expressão e não sobre a convencionalidade do veículo, como vem sendo apontado pela maioria dos teóricos.
Keywords