Pangeas (Dec 2020)

O mito ressignificado em Neil Gaiman: diálogos entre direito animal e literatura

  • Sarah Maria Borges Carneiro

DOI
https://doi.org/10.14198/pangeas2020.2.08
Journal volume & issue
no. 2
pp. 101 – 115

Abstract

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O presente trabalho tem o objetivo específico analisar de que maneira as representações dos personagens não-humanos na obra de Neil Gaiman questionam o direito animal, não apenas no que concerne às leis, mas também no que diz respeito às justificativas formuladas pelo homem ao longo da história para garantir a si mesmo um lugar acima dos animais e da própria natureza. As mudanças tecnológicas e culturais desgastaram a relação entre o homem e o mundo natural, levando-nos a associar a identidade do homem moderno à domesticação e ao rebaixamento daquilo que remete à animalidade. Destacamos a importância da relação entre infância e animalidade pela aproximação entre personagens crianças e animais desde as narrativas mitológicas, até as obras literárias contemporâneas estética e tematicamente elaboradas para o público infantojuvenil. Portanto, fazer um apanhado das narrativas escritas por Neil Gaiman, voltadas teoricamente para o leitor adulto ou para o público infantojuvenil, que trazem em seus enredos personagens não-humanos e crianças, revela-se pertinente para que se possa compreender as tentativas de sondagem da outridade animal que nunca deixaram de instigar a imaginação humana ao longo da história. Partimos da hipótese de que o contato do jovem leitor com os animais de Gaiman contribuiria para uma tomada de consciência dos direitos dos animais, levando o leitor a respeitar a natureza e valorizá-la não apenas em termos de sua utilidade para nós, mas pelos valores e saberes intrínsecos ou inerentes da própria natureza. Para tanto, nos fundamenta-remos nos ensaios de Michel de Montaigne (1987), John Berger (1980), Jacques Derridas (1997), e J. M. Coetzee (1999), nos estudos de Greg Garrard (2006) acerca da Ecocrítica, nas obras de Maria Esther Maciel sobre Literatura e animalidade (2011; 2016) e no estudo de Rutineia Rossi sobre Direitos dos Animais e Ecologia Profunda (2016).

Keywords