Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)
PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM INFECÇÃO CONFIRMADA POR SARS-COV-2 EM HOSPITAL DE REFERÊNCIA PEDIÁTRICA DE MINAS GERAIS
Abstract
Descrever as manifestações clínicas e o perfil epidemiológico das crianças e adolescentes com infecção confirmada por SARS-CoV-2, internadas no Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII), referência em doenças infectocontagiosas do Estado de Minas Gerais, entre março de 2020 e agosto de 2021. Trata-se de um estudo observacional realizado pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar do HIJPII, utilizando os dados das fichas de notificação de síndrome gripal (SG), síndrome respiratória aguda grave (SRAG), síndrome inflamatória multissistêmica associado à COVID-19 (SIMP), dados de prontuários e laboratoriais. Este estudo foi aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa da FHEMIG sob parecer: 4.312.966. Entre março de 2020 e agosto de 2021, 2.606 crianças internaram no HIJPII e coletaram exames para SARS-COV-2, que foram positivos em 164 crianças (6,3%). A detecção viral em swab de nasofaringe por RT-PCR ocorreu em 101 crianças (3,9%). O diagnóstico por teste sorológico ocorreu em 44 crianças (1,7%) e o teste rápido de antígeno que começou a ser utilizado no Hospital apenas em 2021, foi positivo em 26 pacientes. A idade variou entre um mês e 15 anos, mas 70% eram menores de cinco anos, 54,9% do sexo masculino, 51,8% moravam em cidades do interior do Estado, 70% não apresentavam morbidade e 37% relataram contato com sintomático respiratório. Entre as manifestações clínicas: 63,4% apresentou SRAG, 12% SG, 24,4% evoluiu com SIMP e 42,5% das crianças de SIMP apresentaram critérios de gravidade e foram medicadas com imunoglobulina humana. Algumas crianças e adolescentes também tiveram manifestações atípicas como miocardite, hepatite, colestase, artrite, meningite viral, encefalite e Síndrome de Guillain-Barré. Entre as crianças que evoluíram com maior gravidade, 55 necessitaram de internação em CTI e 32,7% destes, de ventilação mecânica (VM) com tempo médio de suporte respiratório invasivo de 9,9 dias. Quatro crianças evoluíram para óbito (2,4%). A letalidade encontrada foi semelhante à da população geral do Estado de Minas Gerais, embora muitos estudos reportem menor gravidade da COVID-19 em crianças. Ressalta-se que 24,4% das crianças evoluíram com SIMP e 8% fecharam critérios para Kawasaki, principal causa de infarto agudo do miocárdio em adultos jovens. Os resultados encontrados reforçam a urgência em vacinarmos toda a população, especialmente crianças e adolescentes com e sem morbidades.