Estudos Sociedade e Agricultura (Apr 2016)
A agricultura familiar e a expansão das relações sociais inerentes à empresa
Abstract
O presente estudo teve como objetivo analisar as relações que se estabelecem e/ou se acentuam a partir da inserção dos agricultores na política pública de agricultura familiar, especialmente no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Para realização desta pesquisa de natureza interpretativa, utilizou-se o procedimento de amostragem intencional por tipicidade (MARCONI e LAKATOS, 2010), tendo sido identificados dois municípios gaúchos, Maquiné e Nova Santa Rita. A coleta de dados ocorreu entre os meses de abril e setembro de 2014, com agricultores e agricultoras beneficiários de políticas públicas de agricultura familiar nos dois municípios. Os principais procedimentos de coleta adotados foram a realização de entrevistas semiestruturadas e a confecção de um caderno de campo. A análise do material empírico esteve amparada pelas discussões sobre as relações inerentes à empresa e ao processo de empresarização do mundo (SOLÉ, 2008; ABRAHAM, 2006). A ênfase nos cultivos comerciais em detrimento da agricultura de subsistência, o acesso individualizado aos financiamentos, a proliferação das relações de parceria (uma maneira particular e informal de empregar pessoas), entre outras situações observadas no campo, evidenciam um processo de assimilação e intensificação das relações funcionais, impessoais, de dominação, de assalariamento e de concorrência associado ao acesso às políticas públicas e às relações contratuais com grandes redes varejistas. Todavia, também foram observadas atitudes de agricultores e agricultoras organizados que conseguiram contornar determinados aspectos da empresarização.