Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

HEMOGLOBINÚRIA PAROXÍSTICA NOTURNA: ANÁLISE RETROSPECTIVA E RESPOSTA AO USO DE INIBIDOR DO COMPLEMENTO TERMINAL

  • MDC Gonçalves,
  • R Marchesini,
  • AP Azambuja

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S15

Abstract

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Introdução: A hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) é uma doença rara com apresentação clínica variada, incluindo hemólise intravascular mediada pelo complemento e trombofilia ou em associação a falência medular. O uso dos inibidores do complemento terminal (IC) na HPN hemolítica se associa a menor risco de evento trombótico e diminuição da necessidade transfusional. Métodos: Estudo retrospectivo de centro único brasileiro incluiu 173 pacientes (pcts) com clone HPN, atendidos entre Jan/2000 e Jun/2023. As características clínicas na primeira consulta, resultados laboratoriais, incidência de trombose, tratamento e desfechos durante o acompanhamento foram consideradas para análise estatística. Os pacientes foram divididos ao diagnóstico conforme parâmetros de hemólise (LDH≥1,5x LSN e tamanho do clone>10%) e hipocelularidade de medula óssea (≤30%), em três grupos: HPN clássica (n = 26,15,0%), HPN associada a síndromes de falência medular (HPN/AA, n = 48,27,7%) e pacientes com HPN subclínica (sc-HPN, n = 98,56,6%). Resultados: 92M/80F, idade mediana 31 anos, sendo 34, 25 e 29 nos grupos HPN clássica, HPN/AA e sc-HPN, respectivamente. Evolução clonal ocorreu em 10,2% dos pacientes com sc-HPN. Medula óssea era hipocelular (<30% de celularidade) em 77,4% dos casos (mediana 70% na HPN clássica e 5% nos demais grupos). As contagens de Hb (8,1 g/dL, 7,2 g/dL e 7,0 g/dL), leucócitos (3650, 2660 e 2480) e plaquetas (85000, 25000 e 14000) foram diferentes entre HPN clássica, HPN/AA e sc-HPN, respectivamente (p < 0,001). A mediana do clone HPN em neutrófilos (92,7% vs 60,5% vs 3,7%, p < 0,001), clone em hemácias (65,1% vs 11,9% vs 0,15%, p < 0.001) e dos valores de LDH (1492 vs 482 vs 240, p < 0,001) também foram diferentes entre os três grupos. 22 (12%) pacientes desenvolveram trombose de origem venosa (n = 14, 63%), arterial (n = 7, 31%) e um paciente com trombose venosa/AVCi. A sobrevida foi semelhante entre os grupos, p = 0,44. Analisando separadamente os 27 pacientes (15,6%) que utilizaram IC (26 Eculizumabe e 1 Crovalimabe), nenhum paciente apresentou trombose após o início da terapia e não foram observados eventos de infecção grave como pneumonia ou meningite durante o uso dos IC. A resposta clínica foi variada: 3 (11%) resposta menor; 9 (33%) resposta parcial; 9 (33%) resposta boa; 6 (22%) resposta completa. Comparando as coortes pré e pós IC, observamos aumento significativo nos níveis de hemoglobina (6,65 vs 8,95 g/dL) e diminuição do LDH (2224 vs 280 UL), p < 0.0001. Discussão: Os IC são indicados para os pacientes com HPN hemolítica, com objetivo de diminuição das transfusões e do risco de trombose. Nesta análise observamos que 15,6% de pacientes foram tratados com inibidores do complemento. Houve diminuição significativa da necessidade transfusional e dos níveis de LDH, sugerindo controle da hemólise intravascular e do risco trombótico. Apesar do benefício do Eculizumab no controle da hemólise e diminuição de trombose, a maioria dos pacientes mantém algum grau de anemia. Conclusão: A HPN é uma doença de apresentação clínica heterogênea na qual a maioria dos pacientes que se apresentam com hemólise intravascular ativa se beneficiam significativamente do uso de inibidores do complemento terminal.