Veritas (Jan 2018)
Os pressupostos românticos de Hannah Arendt em Eichmann em Jerusalém = Romantic presuppositions in Hannah Arendt’s Eichmann in Jerusalem
Abstract
O propósito deste artigo é trazer à luz os pressupostos românticos que animam o livro de Hannah Arendt de título Eichmann em Jerusalém. De maneira a fazê-lo, explorarei (para além de uma breve introdução) na parte II a concepção romântico-alemã de “cultura” enquanto formação subjetiva da alma (trata-se do conceito de “Bildung”); após isso, abordarei na parte III determinadas teses de cunho romântico articuladas por diferentes pensadores do século XIX (Mill, Kierkegaard, Arnold e Nietzsche) relativas ao processo de massificação e, no seu entender, ao esvaziamento dos indivíduos na modernidade; por fim, na parte IV, a sutil reelaboração arendtiana de várias dessas teses. Argumentarei, portanto, que o conceito romântico de “cultura” opera como premissa central na interpretação que Arendt fez do criminoso nazista Otto Adolf Eichmann. Eichmann, em suma, teria cometido os crimes que cometeu por não ter sido formado, cultivado, como um verdadeiro ser humano