Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

FALHA DE TRATAMENTO DAS INFECÇÕES RELACIONADAS À FRATURA ASSOCIADA AO PERFIL MICROBIOLÓGICO: ESTUDO DE COORTE PROSPECTIVA

  • Maria Augusta Moreira Rebouças,
  • Daniel Litardi Castorino Pereira,
  • Isabelle Caroline Frois Brasil,
  • Patrícia Zaideman Charf,
  • Laís Sales Seriacopi,
  • Carolina Coelho Cunha,
  • Thomas Stravinskas Durigon,
  • Laura Batista Campos,
  • Ingrid Nayara Marcelino Santos,
  • Mariana Neri Lucas Kurihara,
  • Mayara Muniz de Andrade Silva,
  • Adriana Macedo Dell Aquila,
  • Mauro José Costa Salles

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103170

Abstract

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Introdução: A infecção relacionada à fratura (IRF) pode ocorrer em taxas elevadas e a maioria causada por Staphylococcus aureus. Contudo, agentes etiológicos podem variar com a localização anatômica e geográfica, mecanismo de trauma e fatores do hospedeiro, sendo importante determinar os patógenos dominantes locais e suas implicações no desfecho do tratamento clínico e cirúrgico. O objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil microbiológico nas IRF e associar a falha do tratamento aos patógenos encontrados. Métodos: Estudo observacional, do tipo coorte prospectiva, em pacientes maiores de 18 anos com IRF, conforme critérios de Metsemakers et al (2017), internados entre 2020 e 2023 em hospital terciário de São Paulo. Falha do tratamento de IRF foi definido como necessidade de reoperação ou reinício da terapia antibiótica para o mesmo patógeno, amputação ou óbito. Proporções das variáveis categóricas foram associadas utilizando o teste qui-quadrado ou exato de Fisher. Resultados: Foram avaliados 65 casos de IRF com diagnóstico microbiológico. A média de idade na população foi 44,41 (± 16,7) anos e 46 pacientes eram do sexo masculino (70,8%). Falha de tratamento ocorreu em 27 (41,5%) casos e 6 (9,2%) perderam seguimento após 6 meses de acompanhamento médio. O microrganismo mais frequente nos casos de falha foi o S. aureus (n = 9; 33,3%), K. pneumoniae (n = 6; 22,2%), S. epidermidis (n = 4; 14,8%), E. coli (n = 4; 14,8%) e P. aeruginosa (n = 4; 14,8%). Na análise por grupos houve risco maior de falha nas IRF por bacilos gram-negativo (BGN) não fermentadores [Incidência: 52,9% vs. 42,9%; RR: 1,24 (intervalo de confiança (IC)95% = 0,70-2,18)], S. aureus [Incidência: 50,0% vs. 43,9%; RR:1,14 (IC95% = 0,64-2,03)] e BGN fermentadores [Incidência: 50,0% vs. 45,5%; RR: 1,10 (IC95% = 0,40-3,06)]. Houve menor risco de falha no grupo de Staphylococcus coagulase-negativos [Incidência: 41,2% vs. 47,6%; RR: 0,86 (IC95% = 0,45-1,66)]. Em relação à resistência antimicrobiana, 60% dos Staphylococcus foram resistentes à meticilina (MRSA) e 53,7% dos BGN foram multidrogas resistentes (MDR). Conclusões: Este estudo evidencia altas taxas de falha de tratamento nas IRF, provavelmente associados a bactérias multirresistentes, incluindo o MRSA e BGN-MDR. S. aureus foi a etiologia mais prevalente, contudo, BGNs não fermentadores cursaram com maior risco de falha terapêutica, o que está de acordo a incidência crescente desses patógenos em infecções associadas à assistência à saúde no Brasil.

Keywords