Brazilian Journal of Infectious Diseases (Sep 2022)
DISSEMINAÇÃO AMBIENTAL DE RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS ATRAVÉS DOS AGLOMERADOS SUBNORMAIS
Abstract
Introdução: A resistência aos antibióticos é considerada uma ameaça global à saúde humana e, sua disseminação ambiental é bem reconhecida. Os aglomerados subnormais, comumente conhecidos como “favelas”, podem ser reservatórios de bactérias resistentes a antibióticos (ARB) e genes de resistência (ARGs). Objetivo: Este estudo visa i) explorar a ocorrência de ARB, ARGs e resíduos de antibióticos e, ii) caracterizar a estrutura da comunidade bacteriana do riacho que recebe a descarga de esgoto não tratado de uma favela no Brasil. Método: As amostras de água da “Comunidade de São Remo” (São Paulo) que foram coletadas (n = 7) durante o verão (2021) foram analisadas por métodos de cultura e moleculares. Os isolados bacterianos foram identificados, rastreados quanto à presença de ARGs (blaKPC, blaNDM, blaSPM, blaIMP, blaVIM, blaOXA-23 and blaOXA-48) e testados quanto à suscetibilidade a antibióticos β-lactâmicos, cefalosporinas de terceira geração e carbapenêmicos. Além disso, o DNA total da comunidade bacteriana (TC-DNA) das amostras de águas foram extraídos, pesquisados quanto à presença de ARGs e, encaminhadas para análise de microbioma. Resultados: De um total de 67 isolados, um grupo de 33 cepas foram positivas para a presença dos genes blaKPC (18,8%) e blaVIM (24,6%) e, foram identificados como pertencentes aos gêneros Aeromonas, Chryseobacterium, Elizabethkingia, Comamonas, Citrobacter, Escherichia, Pseudomonas, Enterobacter, Klebsiella, Kluyvera e Serratia. As espécies bacterianas destes gêneros mostraram resistência à cefotaxima (CTX,73%), amoxicilina (AML, 70%), aztreonam (ATM, 54,5%) e ertapenem (ERT, 51,5%). As amostras de TC-DNA evidenciaram a presença dos ARGs blaKPC e blaVIM enquanto, o gene blaNDM foi observado só em 4 amostras. Os filos Firmicutes (25-33%), Bacteroidota (25-32%), Proteobacteria (22-31%) e Campylobacterota (4-10%) foram os mais predominantes das comunidades bacterianas das amostras de água. Para uma melhor caracterização dos ABR obtidos, estão em andamento testes de produção de carbapenemase e análise de sequenciamento do genoma completo. Além disso, a detecção de resíduos de antibióticos nessas amostras de água também está sendo analisada. Conclusão: Até o momento, a principal conclusão desta pesquisa é que o esgoto não tratado dos assentamentos irregulares pode impactar a propagação de resistência microbiana. Medidas de intervenção nessas localidades são urgentemente necessárias para limitar a exposição humana à ARB e ARGs.