Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
PREVALÊNCIA DE HEMOGLOBINAS VARIANTES EM DOADORES DE UM SERVIÇO DE HEMOTERAPIA DE PORTO ALEGRE - RS
Abstract
Objetivos: De acordo com a legislação vigente (Portaria nº 5 da consolidação, de 28 de setembro de 2017), a pesquisa de Hemoglobina S (HbS) nos doadores de sangue é um teste obrigatório, pelo menos na primeira doação. Apesar de não haver a necessidade de descarte do concentrado de hemácias, caso a pesquisa de HbS seja positiva, em grupos de pacientes específicos, não é recomendada a transfusão. Além disso, há outras hemoglobinas variantes, como C e D. O objetivo do trabalho foi identificar a ocorrência de hemoglobinas variantes entre os doadores de sangue do Serviço de Hemoterapia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Materiais e métodos: Foram analisados os dados de doadores de sangue no período de outubro de 2022 a julho de 2023. A técnica utilizada para a triagem de hemoglobinas variantes foi a cromatografia líquida de alta performance por troca iônica (HPLC) e posteriormente, foi realizada a eletroforese por capilaridade para confirmação dos resultados positivos. Resultados: Das 9.801 doações de sangue no serviço no período avaliado, 87 (0,88%) apresentaram resultados reagentes na triagem para hemoglobinas variantes. Destas, a maioria apresentou hemoglobina S (63%‒77,8%), hemoglobina C (15%‒18,5%), hemoglobina D (5%‒6,2%), 3 (0,03%) apresentaram eletroforese negativa para hemoglobinas variantes e de 3 (0,03%) doadores não foi realizada a eletroforese. Em relação ao perfil dos doadores, 45 eram do grupo O, 21 do grupo A, 11 do grupo B e 4 do grupo AB. Os doadores eram majoritariamente homens (58%‒71,6%). A média de idade foi de 38,8 anos (18‒60). Quanto à identificação étnico racial, 43 doadores foram classificados e/ou se autodeclararam como pretos e pardos, 32 como brancos. Em 15 cadastros não constava a identificação. Discussão: Estudos demonstram que a prevalência de hemoglobina S no Brasil varia de 0,43% a 9,80%, sendo que a maior concentração está nas regiões norte e nordeste, devido à maior proporção de afrodescendentes. A heterogeneidade da população brasileira e a diferença nas técnicas para detecção das hemoglobinas variantes em doadores nos diferentes serviços tornam difícil a comparação entre os estudos. Cabe destacar que a população do sul do Brasil é composta, em sua maioria, por imigrantes europeus, porém, com a miscigenação, a hemoglobina S deixou de ser restrita à população descendente de africanos. Com relação ao sexo dos doadores, houve predomínio de doadores masculinos, dado que está em concordância com a literatura. Vale ressaltar que geralmente a população de doadores masculinos é superior à do sexo feminino, o que também pode influenciar estes resultados. O estudo apresenta uma limitação, que é a informação sobre a identificação étnico-racial dos doadores, que por não haver uma padronização em relação ao preenchimento dos cadastros no sistema informatizado, houve prejuízo na avaliação da prevalência das variantes de hemoglobina por raça. Conclusão: O conhecimento da prevalência de hemoglobinas variantes em doadores de sangue contribui com a segurança transfusional, permitindo que estes concentrados de hemácias não sejam fornecidos a alguns grupos específicos de pacientes, como principalmente recém-nascidos, pacientes com doenças cardíacas e em exsanguíneo transfusão, além de possibilitar a orientação e o aconselhamento genético destes indivíduos.