Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

MIELOPATIA TÓXICO-INFECCIOSA POR INFECÇÃO POR LEISHMANIA SP: RELATO DE CASO

  • BB Arnold,
  • CM Duarte,
  • VA Bastos,
  • LCMC Dall'orto,
  • VHD Moreira,
  • HM Teano,
  • ME Pelicer,
  • RO Coelho,
  • MAC Domingues,
  • RS Cavalcante,
  • L Niero-Melo

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S121

Abstract

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Introdução: As Leishmanioses são causadas por protozoários do gênero Leishmania, família Trypanosomatidae. As principais enfermidades relacionadas a esta zoonose são: a Leishmaniose Visceral (LV), acometendo órgãos internos e com alto potencial de gravidade; e a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), associada a pele e mucosas. Estas zoonoses são endêmicas no Brasil e representam desafio para a saúde pública. Busca-se, neste trabalho, relatar diagnóstico de Leishmaniose Visceral, possível apenas por detecção em Medula Óssea (MO), no presente caso. Relato do caso: Homem, 72 anos, transplantado renal há 2 anos, foi levado ao Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da FMB-UNESP em fevereiro/2024, após queda do estado geral e febre de 39°C. À admissão, paciente apresentava-se muito emagrecido, não contactuante, hipotenso e febril. Realizado transplante renal em fevereiro/2022 por nefropatia diabética, vinha em uso de imunossupressores. Seis meses antes, desenvolvera quadro de glaucoma e amaurose, desencadeando síndrome depressiva, hiporexia, perda de peso e progressiva dependência para cuidados básicos. Cinco dias antes da internação, apresentou piora clínica, não se comunicava mais com familiares e iniciou quadro febril, sem foco aparente. Exame físico: mucosas descoradas e secas, anictérico_ PA: 14/7,4 cmHg_ P = FC = 98 bpm_sem viscero ou adenomegalias, restante: sem alterações. Exames admissionais: pancitopenia (GV: 2,17 milhões/mm3_Hb: 5,7 g/dL _HT:18% _VCM: 82,7 fL_HCM: 26,3 pg _RDW: 18,7% _Plaquetas: 10.000/mm3 _Leucócitos: 1.700/mm3 _Neutrófilos: 1070/mm3 _Linfócitos: 500/mm3 _Mono:100/mm3 _Eosinófilos: 10/mm3 _basófilos: 20/mm3) _albumina:1,9 g/dL globulinas: 3,0 g/dL. Solicitada avaliação à Hematologia que optou por coletar Aspirado de Medula Óssea (MO), observando-se: importante hipoplasia real; intensa reação estromal, com exuberante infiltrado histiocitário, em franca hemofagocitose de hemácias, segmentados e plaquetas, com apenas dois (n = 2) histiócitos com raras formas amastigotas de Leishmania sp. Após diagnóstico de Mielopatia Tóxico-Infecciosa por Leishmaniose, foi iniciado tratamento com Anfotericina B lipossomal. Evoluiu bem, com recuperação das citopenias e alta hospitalar em 3 semanas. Discussão: Brasil está entre os cinco países que agrupam 90% dos casos da LV. No estado de SP, incidência é de 2,8 casos por 100 mil habitantes/ano. Entre 1999 e 2013, notificados 2.324 casos e 200 óbitos por LV_letalidade de 8,6% para o período. LV pode causar alterações hematológicas, tais como a pancitopenia observada no presente caso, associada a síndrome consuptiva. À MO, pode-se visualizar alterações no estroma ou parênquima hematopoético e outras respostas estromais, como plasmocitose, hipercelularidade e atividade histiocítica, com hemofagocitose de elementos maduros. A detecção de formas amastigotas em histiócitos é consistente com o diagnóstico de LV. Conclusão: A Hematologia, como especialidade de consultoria, torna-se fundamental no processo diagnóstico da Leishmaniose. Há alta suspeição a partir do achado de Pancitopenia + Síndrome Consuptiva, que demandam análise morfológica criteriosa de MO, mesmo com raras formas amastigostas presentes, principalmente em pacientes sob estado de imunossupressão. Este entendimento é de grande relevância na criação de políticas públicas e assistenciais, que demandam atenção cuidadosa em pacientes imunossuprimidos e com grande potencial para infecções graves.