Perspectiva (Sep 2019)
“Escola sem partido”: em torno de uma formação discursiva
Abstract
Em Análise do Discurso (doravante, AD) existe o pressuposto de que uma Formação Discursiva (FD) estabelece o que pode e deve ser dito em uma dada conjuntura. O objetivo deste artigo é investigar o estabelecimento de uma FD a partir da análise do enunciado “escola sem partido”, em circulação no Brasil contemporâneo, em materialidades linguísticas tais como artigos da imprensa, de modo a analisar os efeitos de literalidade (a evidência de um sentido para “sem partido”) e os mecanismos ideológicos ali envolvidos. Como referencial teórico-metodológico é mobilizado o paradigma indiciário, que trata o “dado” como indício e a AD pecheutiana, que estabelece o dispositivo teórico-analítico a partir de questões formuladas pelo analista (pesquisador). Por meio da leitura de várias reportagens veiculadas na mídia online, foram definidos recortes, ou seja, unidades de sentido que permitem a análise de relações de sentido em torno do enunciado “escola sem partido”. Concluímos que o estabelecimento de uma FD deixa escapar indícios linguístico-discursivos filiados aos efeitos de literalidade, de slogan e de simulacro. E que a formação discursiva em torno do enunciado “escola sem partido” naturaliza uma evidência de sentido que requer um esforço interpretativo; esforço este aqui realizado para deslocar uma superficialidade linguístico-discursiva que aponta para seu modo de tentar consolidar ao nível do imaginário uma impossibilidade.