Raído (Dec 2008)
Convergências espaço-temporais nas memorialísticas de Augusto Meyer e de Pedro Nava
Abstract
Tendo vivido no Rio de Janeiro a partir do final da década de 1930, tanto Augusto Meyer quanto Pedro Nava reconstituíram, em suas obras memorialísticas (sobretudo em “Rua da Praia”, 1966, e em “Evocação da Rua da Bahia”, 1976, respectivamente), aspectos típicos das cidades onde passaram a juventude – Porto Alegre, no caso de Meyer, e Belo Horizonte, no de Nava. Provincianas no início do século XX, tais capitais são revividas e revalorizadas através da evocação ao ambiente de intensa efervescência cultural simbolizada pela fidelidade dos escritores aos cinemas, livrarias, ruas e bares mais representativos dessas cidades, para os quais convergiam intelectuais que viriam a renovar a literatura modernista brasileira. Demonstro, neste artigo, uma série de afinidades entre as recriações memorialísticas de Augusto Meyer e de Pedro Nava tendo como foco a reconfiguração espacial dos lugares mais freqüentados pelas primeiras gerações modernistas nas duas capitais mencionadas acima. Na primeira, a Rua da Praia, o Café Colombo e os cinemas Odeon e Ideal são os pontos de encontro eleitos pelos jovens escritores porto-alegrenses para ambientar as discussões envolvendo as tendências vanguardistas das correntes literárias da época. Na segunda, a Rua da Bahia, o Bar do Ponto, a redação do Diário de Minas e a Livraria Alves aglutinavam, por sua vez, a talentosa geração mineira a que pertenciam, além de Nava, Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura, Abgar Renault, Gustavo Capanema e, mais tarde, Guilhermino Cesar, Cyro dos Anjos e Ascânio Lopes.