Manuscrítica (Dec 2018)

«Assim é a vida, mas eu não concordo»: nodos e redes no processo criativo de Fernando Pessoa (apontamentos)

  • Jorge Uribe

Journal volume & issue
no. 36

Abstract

Read online

Fernando Pessoa publicou um único livro em português, em 1934, um ano antes da morte. Esse livro, porém, é produto de um processo de escrita que se estendeu durante mais de 20 anos, marcado por publicações parciais em revistas literárias. Para o reconhecimento abrangente desse processo criativo, convergem, ainda, dezenas de documentos que fazem parte do espólio do autor, cujos graus de filiação ao livro, enquanto produto definitivo, variam significativamente. Porque os “livros”, neste caso Mensagem, na sua pretendida autossuficiência material constituem unidades em oposição aos processos que os fizeram possíveis, sendo esses carateristicamente inconclusivos, porosos nas sua fronteiras e instáveis na sua identidade, a obra de Fernando Pessoa é mais adequadamente descrita em analogia com os segundos: uma obra-arquivo, work in progress, e não uma obra-coleção de livros, éditos ou inéditos. Nesse contexto, um poema de Mensagem, uma nota diarística de 1913, e a poética de “O Guardador de Rebanhos”, participam numa legibilidade implicativa da obra.

Keywords