Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

DETERMINANTES CLÍNICOS DE MORTALIDADE PRECOCE APÓS TRANSPLANTE ALOGÊNICO DE MEDULA ÓSSEA PARA LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA EM UM REGISTRO MULTICÊNTRICO BRASILEIRO

  • DN Cysne,
  • WF Silva,
  • MN Kerbauy,
  • I Colturato,
  • ACA Maia,
  • L Tucunduva,
  • GMN Barros,
  • VR Colturato,
  • N Hamerschlak,
  • V Rocha

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S519

Abstract

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Introdução: O Transplante Alogênico de Células-Tronco (TCTH) é uma terapia potencialmente curativa para Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA). Um grande desafio continua sendo a Mortalidade Relacionada ao Transplante (TRM), embora a taxa de mortalidade tenha diminuído. Nos países em desenvolvimento, pesquisas anteriores sobre TCTH destacaram que a mortalidade precoce está relacionada a resultados clínicos inferiores. É crucial identificar os fatores envolvidos na mortalidade precoce para melhores desfechos e cura. Diante disso, este estudo tem como objetivo investigar os fatores de risco associados à mortalidade precoce após TCTH para LLA em centros brasileiros. Métodos: Trata-se de uma coorte retrospectiva de pacientes com LLA ou ambígua leucemia de linhagem acima de 16 anos que realizaram o primeiro TCTH em 5 centros brasileiros entre janeiro de 2007 e dezembro de 2017. A Mortalidade Precoce (MP) foi definida como morte dentro de 100 dias a partir do TCTH. A análise multivariada foi realizada por meio de regressão logística, baseada no critério de informação de Akaike para seleção do modelo. Um valor de p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. Resultados: 275 pacientes foram incluídos, a mediana de idade foi de 31 anos e 58,5% eram do sexo masculino. O cromossomo Ph foi relatado em 35% e a maioria dos pacientes estava em primeira remissão completa (66%). Doador aparentado HLA-idêntico (MSD), doador não-aparentado HLA idêntico (MUD), doador não-aparentado com Mismatch (MMUD), doador haploidêntico, e cordão umbilical foram relatados em 53%, 19%, 9%, 19% e 5%, respectivamente. A mediana de idade dos doadores foi de 31 anos e 54,4% eram do sexo masculino. A taxa de MP foi de 24,4%. Na análise univariada, os fatores que estiveram estatisticamente relacionados a MP foram: fonte de células (p < 0,001), KPS basal (p = 0,03), sexo (feminino vs. masculino, 16,7 vs. 27,9%, p = 0,03), status Ph-positivo (p = 0,03), doença refratária (p = 0,015), fonte de sangue de cordão umbilical (p = 0,01) e idade do doador (p = 0,08). Não houve diferença entre as taxas de MP comparando os centros públicos e privados (24,5 vs. 19%, p = 0,463). O melhor modelo multivariado incluiu gênero, estado de Ph, tipo de doador e idade do doador como variáveis finais para MP. Nesta coorte, o status Ph-positivo (OR = 2,83), a idade do doador (OR = 1,05) e o uso de MUD (OR = 3,68) foram independentemente associados à MP. Em relação à causa de MP, 69% foram relacionados à infecção, e 19,5% a DECH agudo. A MP foi maior em pacientes Ph-positivos sem remissão molecular importante (BCR-ABL ≥ 0,1% – 40% vs. 3,6%, p = 0,008). A incidência cumulativa de DECH aguda no dia 100 foi de 48,3% pela análise competitiva. Apenas 3 de 62 mortes no grupo MP foram devido à recidiva da doença. As demais mortes foram secundárias à infecção bacteriana (52%), seguido por DECH aguda (17,8%) e infecção fúngica (8,9%). Conclusão: Este estudo representa a maior análise no Brasil para avaliar precocemente a mortalidade nesse grupo de pacientes. Embora as características gerais dos pacientes foram semelhantes a análises prévias, a taxa de MP deste estudo foi maior do que em outras coortes. Notavelmente, fatores relacionados ao transplante, como a idade e o tipo do doador, além do status Ph-positivo, foram associados com MP, superando fatores previamente conhecidos como intensidade de condicionamento e o uso de TBI. Esses achados podem ajudar a melhorar a seleção de doadores no Brasil.