Revista Brasileira de Terapia Intensiva (Sep 2018)

Efeitos de um programa de cuidados paliativos nas tendências de utilização da unidade de terapia intensiva e ordens de não reanimar durante hospitalizações terminais. Análise de séries temporais interrompidas

  • João Gabriel Rosa Ramos,
  • Fernanda Correia Tourinho,
  • Patrícia Borrione,
  • Paula Azi,
  • Tuanny Andrade,
  • Vanessa Costa,
  • Zan Reis,
  • Paulo Benigno Pena Batista,
  • Ana Verena Mendes

DOI
https://doi.org/10.5935/0103-507x.20180042
Journal volume & issue
Vol. 30, no. 3
pp. 308 – 316

Abstract

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RESUMO Objetivo: Avaliar os efeitos da implantação de um programa de cuidados paliativos no estabelecimento de ordens de não reanimar e na utilização da unidade de terapia intensiva em hospitalizações terminais. Método: Os dados de todos os pacientes que faleceram em um hospital terciário brasileiro, entre maio de 2014 e setembro de 2016, foram coletados de forma retrospectiva. Analisamos a frequência do estabelecimento de ordens de não reanimar e de admissões à unidade de terapia intensiva entre os casos de óbito hospitalar. Utilizou-se análise de séries temporais interrompidas para avaliar as diferenças, em termos de tendências de estabelecimento de ordens de não reanimar e de admissões à unidade de terapia intensiva antes (15 meses) e após (12 meses) a implantação do programa de cuidados paliativos. Resultados: Analisamos um total de 48.372 admissões ao hospital, dentre as quais 1.071 óbitos no hospital. Os óbitos foram precedidos de ordens de não reanimar em 276 (25,8%) casos e ocorreram admissões à unidade de terapia intensiva em 814 (76%) casos. O estabelecimento de ordens de não reanimar aumentou de 125 (20,4%) para 151 (33%) casos, na comparação entre os períodos antes e após a implantação do programa de cuidados paliativos (p < 0,001). Ocorreram admissões à unidade de terapia intensiva em 469 (76,5%) e 345 (75,3%) dos casos, respectivamente, nos períodos pré e após a implantação do programa de cuidados paliativos (p = 0,654). A análise de séries temporais confirmou tendência ao aumento do estabelecimento de ordens de não reanimar de 0,5% por mês antes da implantação para 2,9% ao mês após a implantação (p < 0,001), demonstrando-se tendência à diminuição de utilização da unidade de terapia intensiva, de uma tendência a aumento de 0,6% ao mês, antes da implantação do programa, para diminuição de -0,9% ao mês no período, após a implantação (p = 0,001). Conclusão: A implantação de um programa de cuidados paliativos se associou com tendência ao aumento no estabelecimento de ordens de não reanimar e à diminuição do uso da unidade de terapia intensiva durante hospitalizações terminais.

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