Journal of Lithic Studies (Nov 2017)
Debitagem laminar no Sul do Brasil: Habemus nucleos!
Abstract
Durante a pré-história, a debitagem laminar é um modo de produção característico de determinados períodos e regiões. No Brasil, no momento, foi reconhecida em três sítios arqueológicos situados no alto vale do rio Uruguai (SC/RS), em contextos sedimentares que datam do Holoceno inicial. Até hoje, somente os produtos dessa debitagem, as lâminas, tinham sido encontrados. A falta dos núcleos impedia um entendimento completo do processo de lascamento desses suportes. Graças à retomada das pesquisas na região desde 2013, foi possível coletar núcleos associados a essa produção laminar. Nesse artigo, descrevemos cinco desses núcleos. Suas análises demonstram que essa debitagem laminar corresponde a um único conceito. A estrutura volumétrica do núcleo que resulta desse conceito respeita as seguintes normas: 1) Os núcleos apresentam duas superfícies: um dorso plano e uma superfície de debitagem convexa mas relativamente achatada. Em uma extremidade, uma pequena superfície plana serviu de plano de percussão; 2) A debitagem começa por uma fase de inicialização durante a qual o plano de percussão é produzido por uma grande retirada. Em função das propriedades naturais do volume inicial, o dorso do núcleo é obtido, seja durante a seleção do bloco, seja por uma preparação por grandes retiradas transversais. Quando existem ainda, os negativos de retiradas da inicialização da superfície de debitagem indicam um método centrípeto; 3) As lâminas são sempre produzidas por um método unidirecional paralelo. A variabilidade desta debitagem é principalmente relacionada à técnica de lascamento: a percussão com pedra e a percussão com percutor orgânico foram utilizadas para a obtenção das lâminas. As informações tecnológicas fornecidas pelos núcleos aqui analisados são coerentes com essas observações oriundas da análise das lâminas. Com esses dois estudos consegue-se atingir um conhecimento completo desse sistema de produção do alto vale do rio Uruguai durante o Holoceno inicial, a única debitagem laminar documentada até hoje no Brasil.