Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

FATORES DE RISCO ASSOCIADOS A COLONIZAÇÃO E A INFECÇÃO POR ENTEROCOCCUS SPP. RESISTENTES À VANCOMICINA (VRE) EM PACIENTES TRANSPLANTADOS DE FÍGADO

  • Nathalia Neves Nunes,
  • Debora Terrabuio,
  • Gabriela Takeshigue Lemos,
  • Alice Tung Wan Song,
  • Luiz Augusto D'Albuquerque,
  • Edson Abdala,
  • Maristela Pinheiro Freire

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103247

Abstract

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Introdução: Enterococcus spp. resistentes à vancomicina (VRE) são microrganismos multidroga resistentes (MDRO) comumente isolados em pacientes submetidos a transplante de fígado (TF), e estão potencialmente associados a piores desfechos clínicos. Existem poucos dados sobre os fatores de risco para a colonização e infecção por VRE nessa população. Nosso objetivo é identificar os fatores de risco associados à colonização e infecção por VRE após TF. Métodos: Esse é um estudo de coorte retrospectivo que incluiu todos os adultos submetidos a TF entre 2010 e 2019 em um hospital de alta complexidade. O período de acompanhamento foi de 180 dias após TF. A análise estatística incluiu variáveis relacionadas às características dos pacientes, procedimentos e complicações pós transplante. Utilizamos o modelo de regressão de Cox para análises univariadas e multivariadas. Resultados: Foram incluídos 855 pacientes, a mediana de idade foi 54 anos (IQR 41 - 61) e escore de MELD no TF de 21 (IQR 13 - 29). 107 (13%) adquiriram VRE antes do TF. A colonização após o TF ocorreu em 144 pacientes (19%), sendo que 80 (9%) desenvolveram infecção por VRE. As infecções mais comuns foram infecção do sítio cirúrgico (36-45%) e infecção da corrente sanguínea relacionada ao cateter (22-28%), o tempo médio entre o TF e a infecção por VRE foi de 15 dias. Os fatores de risco para colonização por VRE identificados na análise multivariada foram CLIF-SOFA elevado no pré-TF (p < 0.001), ascite refratária no pré-TF (p = 0.03), tempo prolongado de internação no pré-TF (p = 0.005) e reoperação pós-TF (p < 0.001). A presença de doença hepática por HCV foi identificada como fator protetor (p = 0.03). Para infecção por VRE, as variáveis preditoras no modelo final foram colonização por VRE pré-TF (p < 0.001), colonização por VRE pós-TF (p < 0.001), hepatite fulminante (p = 002), reoperação (p < 0.001), retransplante (p < 0.001), sangramento intraoperatório (p = 0.04) e transplante combinado (p = 0.04). A mortalidade em 180 dias após o TF foi de 20%, 27% e 53% para pacientes não colonizados por VRE, pacientes colonizados por VRE, mas não infectados, e pacientes infectados por VRE, respectivamente. A infecção e colonização por VRE foram associadas à mortalidade em 180 dias após o TF. Conclusões: A colonização por VRE antes e após o TF é um dos principais fatores de risco para a ocorrência de infecção por VRE. A infecção por VRE diminui substancialmente a sobrevida dos receptores de TF.

Keywords