Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

DIAGNÓSTICO CITOMORFOLÓGICO DE CAPNOCYTOPHAGA CANIMORSUS EM INFECÇÕES HUMANAS

  • CAC Franchini,
  • PC Daher,
  • IY Takihi,
  • CF Matias,
  • LAM Oliveira,
  • MV Gonçalves,
  • MCA Silva,
  • ADSB Perazzio,
  • MLLF Chauffaille,
  • AF Sandes

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S106

Abstract

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Introdução: A análise citomorfológica de esfregaços de sangue periférico é um componente essencial do hemograma que pode auxiliar na identificação de microrganismos dentro das células sanguíneas. Os microrganismos mais comumente encontrados no sangue periférico incluem Plasmodium spp., Trypanosoma cruzi, Babesia spp., Leishmania spp. e Histoplasma capsulatum. A Capnocytophaga canimorsus é uma bactéria Gram-negativa que faz parte da flora normal da boca de cães e gatos. Em casos raros, pode causar infecções em humanos, geralmente após uma mordida, arranhão e até mesmo lambida de um animal infectado. A infecção disseminada pode ocorrer especialmente em indivíduos imunocomprometidos, e a identificação do patógeno no esfregaço de sangue periférico, apesar de desafiadora, é um método para diagnóstico precoce da infecção. O diagnóstico confirmatório geralmente requer métodos mais sensíveis e específicos, como a cultura bacteriana de amostras de sangue. Objetivo: O presente estudo tem o objetivo de relatar os achados citomorfológicos de dois casos infectados por Capnocytophaga canimorsus. Resultados: Caso 1: Homem, 51 anos, previamente hígido, com quadro de febre há dois dias, dor abdominal difusa e petéquias, evoluindo com insuficiência hepática, renal e CIVD, com suspeita inicial de síndrome ictérica febril hemorrágica. No hemograma apresentava Hb: 13 g/dL, com poiquilocitose e policromasia discretas e presença de 3% de eritroblastos; Leucócitos: 9.820/mm3 (neutrófilos: 8.640/mm3, eosinófilos: 0/mm3, basófilos: 30/mm3, linfócitos: 900/mm3, monócitos: 240/mm3); e plaquetas: 29.000/mm3. A análise do esfregaço sanguíneo demonstrava a presença de neutrófilos com granulações tóxicas e microvacuolização citoplasmática. Observou-se também a presença de neutrófilos com múltiplos bacilos intracelulares em forma de bastonete, além de bactérias baciliformes extracelulares. Ao mielograma, também foram identificados neutrófilos com os bacilos intracitoplasmáticos, além de hemofagocitose. A hemocultura aeróbia detectou a presença de Capnocytophaga canimorsus. Caso 2: Mulher, 68 anos, com diagnóstico de lúpus apresenta quadro de febre após mordedura canina. Hemograma apresenta Hb: 12,2 g/dL, Neutrófilos: 4.640/mm3 (mielócitos: 310/mm3, metamielócitos: 560/mm3, bastonetes: 970/mm3, segmentados: 2.800/mm3) e Plaquetas de 21.000/mm3. Avaliação do esfregaço de sangue periférico demonstra a presença de granulação tóxica, microvacuolização citoplasmática e presença de neutrófilos com bacilos intracitoplasmáticos. A hemocultura aeróbia detectou a presença de Capnocytophaga canimorsus. Em ambos os casos a identificação da espécie foi confirmada pela espectrometria de massas MALDI-ToF MS. Discussão: Capnocytophaga canimorsus é um microrganismo comensal presente na flora oral de cães e gatos. Pode causar infecções graves, como púrpura fulminante, especialmente em pacientes esplenectomizados e imunodeprimidos. O histórico de mordida de cachorro, asplenia ou comprometimento imune e a detecção de bastonetes intracelulares Gram-negativos presentes no esfregaço de sangue periférico sugerem o diagnóstico inicial e podem levar à introdução de tratamento antimicrobiano empírico precocemente, até que o resultado seja confirmado pela hemocultura e métodos adicionais.