Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

DESFECHOS E FATORES DE RISCO PARA SOBREVIDA EM LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA T: UM ESTUDO MULTICÊNTRICO BRASILEIRO

  • DLF Silva,
  • BKL Duarte,
  • YC Oliveira,
  • C Piaia,
  • JSR Aragão,
  • IHB Massaut,
  • ED Velloso,
  • V Rocha,
  • EM Rego,
  • WFS Júnior

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S249 – S250

Abstract

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Introdução: Leucemia linfoblástica T (LLA-T) representa cerca de 25% de todos os casos de LLA diagnosticadas em adultos. Esses casos são frequentemente estudados junto com casos de LLA-B, apesar de suas diferenças biológicas, ou com linfoma linfoblástico T (LL-T), que demonstra um prognóstico mais favorável. O objetivo deste estudo é relatar os resultados e encontrar fatores prognósticos em adultos com LLA-T de um estudo multicêntrico brasileiro. Métodos: Esta é uma coorte retrospectiva conduzida em quatro diferentes centros médicos acadêmicos localizados em três estados diferentes do Brasil. O estudo incluiu pacientes (pcts) com idade igual ou superior a 15 anos, diagnosticados com LLA-T entre jan de 2009 e jun de 2022. Os dados foram coletados dos prontuários após aprovação ética. Os desfechos de SG foram calculados por Kaplan-Meier, com análise de regressão de Cox para encontrar fatores de risco. A recaída e a mortalidade não recaída (MNR) foram calculadas por meio de análise de risco competitivo. Resultados: 97 pacientes foram incluídos no estudo, com idade mediana de 27 anos (15-82). LLA-T tímica representou 50% dos casos. Bulky mediastinal foi relatado em 48% e a positividade geral da avaliação inicial do líquor foi de 12,5% (por morfologia ou citometria de fluxo). 88% dos pcts foram tratadados com regimes pediátricos (baseados em ASP), principalmente GMALL adaptado (43%) e BFM adaptado (22%). ASP nativa de E. coli foi usada em 76% dos pcts e PEG-ASP foi utilizada nos demais casos. Cerca de 15% dos pacientes tiveram trombose, sendo 64% associados ao uso da ASP. Após o tratamento inicial, 77,3% dos pcts alcançaram RC. 11,3% dos pcts foram a óbito durante a indução, enquanto 8% foram refratários. A análise univariada para RC mostrou correlação com idade (p = 0,002), bulky (p = 0,016) e uso de ASP (p = 0,009). O seguimento mediano foi de 6 anos. TCTH alogênico foi realizado em 18 pcts, sendo 11/18 na primeira RC. A SG em 5 anos e a SLE em 5 anos foram de 43,7% (IC95%:34,4-55,5) e 36,4% (IC95%:27,9-47,5). A taxa de recaída em 5 anos e a MNR foram de 35,6% e 27,9%, respectivamente. Entre os pcts que se submeteram ao TCTH alogênico, a SG foi de 64%. Na análise univariada, a idade mais avançada (HR 1,02 [1,01-1,04], p < 0,01) foi associada a menor SG. Já LLA-T tímica (HR 0,53 [0,3-0,96], p = 0,03) e uso de ASP (HR 0,34 [0,16-0,71], p < 0,01) foram associados a maior SG. A contagem inicial de leucócitos não foi estatisticamente associada à SG. Posteriormente, realizamos uma análise de subgrupo focada na população AYA (idade entre 15-45 anos). Nesse subgrupo (n = 85), 89% foram tratados com ASP e a SG5 foi de 46,5%. Na análise univariada, a trombose (HR 2,21 [1,09-4,48], p = 0,02) foi associada a menor SG, enquanto LLA-T tímica (HR 0,48 [0,24-0,93], p = 0,03) e o uso de ASP (HR 0,31 [0,13-0,75], p < 0,01) foram associados a maior SG. Na análise multivariada, LLA-T tímica (HR 0,50 [0,25-0,98], p = 0,04) e trombose (HR 2,23 [0,97-5,13], p = 0,054) permaneceram associadas à SG, enquanto a idade mais avançada não foi (HR 1,004 [0,96-1,04], p = 0,81). Conclusão: Os resultados deste registro são comparáveis com estudos mais antigos dos grupos GMALL, UKALL e JALSG. Atualmente, grupos europeus têm relatado taxas de SG acima de 70% para adultos com LLA-T. Em nosso cenário, mesmo na população AYA, a SG ficou abaixo do esperado. O aumento da MNR devido à toxicidade e o acesso limitado ao TCTH alogênico podem ter contribuído para esses resultados. A LLA-T tímica continua sendo um subtipo de menor risco, já a trombose surgiu como um fator de risco independente para a SG na população AYA, porém requer mais pesquisas. Até onde sabemos, este é o primeiro estudo específico sobre LLA-T em adultos da América Latina.