Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Feb 2010)

Perfil clínico e microbiológico de mulheres com vaginose bacteriana Clinical and microbiological profile of women with bacterial vaginosis

  • Sonia Regina Ribeiro de Figueiredo Leite,
  • Melania Maria Ramos de Amorim,
  • Waldylene Barbosa Calábria,
  • Tessália Natasha de Figueiredo Leite,
  • Viviane Santos de Oliveira,
  • José Alfredo Alves Ferreira Júnior,
  • Ricardo Arraes de Alencar Ximenes

DOI
https://doi.org/10.1590/S0100-72032010000200006
Journal volume & issue
Vol. 32, no. 2
pp. 82 – 87

Abstract

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OBJETIVO: estudar o perfil clínico e microbiológico de mulheres portadoras de vaginose bacteriana participantes de um ensaio clínico randomizado, duplamente mascarado, que comparou aroeira e metronidazol, em uso vaginal, para tratamento do corrimento genital. MÉTODOS: o estudo constitui-se em uma série de casos de 277 mulheres portadoras de vaginose bacteriana diagnosticada, concomitantemente, pelos critérios de Amsel e Nugent, selecionadas a partir de um total de 462 recrutadas, utilizando as informações colhidas antes da intervenção. A análise dos dados foi efetuada utilizando-se o programa Epi-Info 3.32. Para comparar as frequências dos desfechos entre os grupos de intervenção, foi utilizado o teste do χ2 e foi calculada a razão de risco e o intervalo de confiança a 95%. Foi feita análise por intenção de tratar. Além dos parâmetros de diagnósticos, foram também colhidas cultura do conteúdo vaginal e uma citologia de Papanicolaou. RESULTADOS: entre as queixas clínicas, as mais frequentes foram o corrimento genital, observado em 206 participantes (74,4%) e o odor de peixe da secreção vaginal, que ocorreu em 68,6% dos casos (190 pacientes). Dentre os critérios clínicos de diagnósticos, a presença de clue-cells foi positiva em 275 mulheres (99,3%), o teste de Whiff positivo apareceu em 266 participantes (96,0%), seguido do pH >4,5, que ocorreu em 92,8% dos casos e da presença de corrimento fluido e acinzentado, citado por 206 participantes (74,4%). Com relação ao critério de Nugent, a mediana dos escores foi o valor 8,0. As culturas de conteúdo vaginal permitiram a identificação de Gardnerella vaginalis em 96,8% e de Mobiluncus, em 53,1% dos casos. Apenas uma terça parte dos exames mostrou a presença de Lactobacillus (89 mulheres - 32,1%). Houve crescimento de fungos em culturas de 14 participantes (5,1%). Na maior parte dos casos, os resultados das culturas demonstraram a presença de Corynebacterium (94,2%), Cocos Gram-positivos (98,2%), além de bacilos Gram-positivos (99,3%) e negativos (91,0%). As colpocitologias oncóticas mostraram presença muito escassa de lactobacilos, que estiveram presentes em apenas 8 citologias (2,9%) do total de 273 exames realizados. CONCLUSÕES: os resultados do estudo não mostraram diferença em relação à literatura quanto aos sintomas referidos pelas mulheres, os critérios clínicos mais observados no diagnóstico, ou as espécies bacterianas demonstradas nas culturas de conteúdo vaginal. Os achados demonstram serem necessários novos estudos que melhor elucidem as inter-relações entre os achados microbiológicos e a expressão clínica da vaginose bacteriana. Registro do ensaio clínico: ISRCTN18987156PURPOSE: to study the clinical and microbiological profile of women with bacterial vaginosis participating in a randomized, double-blind clinical trial, which compared the vaginal use of preparations from red pepper tree and metronidazole for the treatment of genital discharge. METHODS: the study was conducted on a series of 277 women with bacterial vaginosis concomitantly diagnosed by the criteria of Amsel and Nugent, selected from a total of 462 recruited patients using the information obtained before intervention. Data were analyzed with the Epi-Info 3.32 software. In order to compare the outcomes frequencies between the intervention groups, the χ2 test was used and the risk ratio and 95% confidence interval were calculated. The intention to treat analysis was performed. In addition to the determination of diagnostic parameters, the culture of vaginal content and a Papanicolaou cytology test were also performed. RESULTS: the most frequent clinical complaints were genital discharge, observed in 206 participants (74.4%) and the fish odor of the vaginal secretion, which occurred in 68.6% of the cases (190 patients). Among the diagnostic clinical criteria, the presence of clue-cells was positive in 275 women (99.3%), the Whiff test, in 266 (96.0%), followed by pH >4.5, which occurred in 92.8% of the cases, and by the presence of fluid grayish discharge reported by 206 participants (74.4%). Regarding the Nugent criterion, the median score was 8.0. Culture of the vaginal content permitted the identification of Gardnerella vaginalis in 96.8% of cases and of Mobiluncus in 53.1%. Only one third of the exams showed the presence of Lactobacillus (89 women - 32.1%). Fungal growth occurred in the cultures of 14 participants (5.1%). In most cases, culture revealed the presence of Corynebacterium (94.2%), Gram-positive cocci (98.2%), as well as Gram-positive (99.3%) and Gram-negative (91.0%) bacilli. Oncotic colposcopy revealed a very scarce presence of lactobacilli, which were present in only 8 cytological exams (2.9%) out of the total of 273 exams performed. CONCLUSIONS: the results of the present study did not differ from the literature regarding the symptoms reported by the women, the clinical criteria most frequently observed in the diagnosis, or the bacterial species detected in cultures of vaginal content. These findings indicate the need for further studies that might better elucidate the interrelations between the microbiological findings and the clinical expression of bacterial vaginosis.

Keywords