Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
PAPEL DAS BACTÉRIAS NA PATOGÊNESE DA REAÇÃO FEBRIL NÃO-HEMOLÍTICA PÓS-TRANSFUSIONAL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Abstract
Objetivos: A compreensão quanto à patogênese da Reação Febril Não-Hemolítica Pós-Transfusional (RFNH) é crucial para aprimorar as estratégias de prevenção e manejo desta condição. Este trabalho visa explorar a influência bacteriana na RFNH, a fim de contribuir para a melhoria das práticas transfusionais e para a minimização desta complicação. Material e métodos: Nesta revisão, foram buscados artigos dos últimos 10 anos nas bases PubMed e Scielo, com os descritores “Non-Hemolytic Transfusion Reaction” AND “Infeccion”OR “Bacterial Contamination” OR “Pathogenesis”. Dos 40 artigos encontrados, em inglês e português, 3 foram selecionados. Resultados: O papel das bactérias na patogênese da RFNH ainda é pouco citado. Alguns autores afirmam que esses agentes poderiam sim contribuir para a reação, mas são subnotificados devido à formação de biofilmes e ao fato de não serem passíveis de proliferação nos meios de cultura. As principais vias patogênicas da RFNH seguem associadas à produção de anticorpos anti-HLA e à liberação de citocinas, sendo a contaminação bacteriana colocada como uma etiologia dissociada. Discussão: Em artigo de 2020, os autores elucidam que, em um número significativo de casos, os sintomas típicos de RFNH são identificados, mas as culturas de sangue do paciente e/ou da bolsa transfundida são negativas. Isso nos leva a questionar uma possível subnotificação do papel das bactérias na patogênese da RFNH. Sugere-se que a formação de biofilme na bolsa de sangue e a presença de patógenos viáveis, mas não cultiváveis (VBNC), seriam as principais causas dessa subnotificação. Emerge também a compreensão de que, nas transfusões de concentrados de plaquetas, estes fragmentos celulares podem representar agentes-chave, atuando como vetores de contaminação bacteriana, mesmo na ausência de bactérias livres na corrente sanguínea. Em meta-análise de 2024, concluiu-se que o uso de filtros de Leucorredução foi fator protetivo para a ocorrência de RFNH. Contudo, a prática de Leucorredução é associada, particularmente, à prevenção da transmissão de Citomegalovírus (CMV), e não à profilaxia para contaminação bacteriana, não nos permitindo associar necessariamente a RFNH à presença de procariontes no material transfundido. Segundo estudo de 2022 voltado para a patogênese da RFNH, as 2 principais vias são a produção de anticorpos contra o antígeno leucocitário humano dos pacientes transfundidos e a liberação de citocinas (como o pirogênio endógeno e a Interleucina-1) pelos produtos sanguíneos durante o armazenamento. Com efeito, o papel dos microorganismos procariontes nesta reação ainda não é bem considerado, já que as etiologias das Reações Transfusionais (RT) são divididas em vários grupos, em que se coloca a “Reação Febril Não-Hemolítica” e a “Contaminação Bacteriana” como Tipos de Reação distintos, não admitindo, portanto, um entrelaçamento das duas patogêneses e a contribuição das bactérias no desenvolvimento da RFNH. Conclusão: Conclui-se que o papel das bactérias na patogênese da RFNH é pouco consolidado. Cabe-nos agora investigar se esta contribuição de fato é insignificante ou se é subnotificada, como podem sugerir os achados das pesquisas desta revisão.